sábado, 28 de março de 2009

Saudade: atendendo a convite, Zé Melé foi cantar no céu

Faleceu no dia 15 de março em São Paulo onde estava para tratamento de saúde e em visita a familiares, uma das nossas figuras populares mais querida e emblemática. Trata-se do inesquecível e alegre ZÉ MELÉ.
Zé Melé foi talvez um dos nossos últimos espécimes – daqueles que no passado no nosso interior dava-se a denominação de “gente do povo”. Era reconhecido onde quer que passasse até mesmo em algumas das nossas cidades circunvizinhas. Com uma barba sempre farta e mal tratada, esbranquiçada, um caminhar lento e compassado talvez pelo tamanho da sua estatura; o nosso Zé também carregava a tiracolo quase como uma extensão do seu corpo, um rádio de pilha. Além do seu inseparável cavaquinho. Não era um tocador exímio do instrumento como se podia imaginar, mas aprendeu a dá alguns acordes, o suficiente para improvisar as canções que mais gostava; de preferência as da velha guarda, do brega e do Pinduca. Dono de uma voz não muito apropriada para o canto, mesmo assim Zé Melé tinha uma verdadeira paixão pela música. De tal maneira que se achava um bom cantor e o fazia quase sempre nas suas bebedeiras com os amigos. Quando não estava com seu radinho de pilha ligado, como se fosse um carro-de-som pelas esquinas; era também possível encontrá-lo quase sempre dedilhando o seu velho cavaquinho. Cantando com seus agudos uma gama de canções melodiosas sempre a pedido dos transeuntes. Por onde quer que chegasse fazia a alegria dos presentes. Por onde passava deixava um rastro de animação... era por assim dizer, um verdadeiro mascate da alegria ambulante. Além de um boêmio, também era dado ao trabalho. Sua boemia estava sempre reservada aos finais de semanas, feriados e às festas municipais.
Seu ofício, mesmo em sua idade avançada era quebrar pedra à marteladas para a feitura da matéria-prima do concreto para construção. Uma tarefa árdua e penosa, principalmente para um senhor daquela idade. Entretanto gostava do que fazia e o praticava com prazer e esmero. Na semana era possível vê-lo com sua marreta e uma borracha de pneu, os principais instrumentos do seu trabalho. Seja com o sol a pino ou mesmo nas invernadas sempre o víamos na sua ‘oficina’ - uma modesta barraquinha de palha nas pedreiras do Poço do Meio às margens do Salgado. Depois, decerto pelo peso da idade, instalou sua latada às margens da linha férrea, tanto no Alto da Cruz quanto nas proximidades do antigo matadouro já nas imediações do Araçá. A vida do velho Zé foi sempre de pedra, como de pedra e granito foi sempre sua lida, sua faina de viver as coisas do mundo sem muitas preocupações ou estresse. Quebrando pedra e tocando seu "cavaco" Zé Melé provou-nos que, por mais dura que sejam as dificuldades haverá sempre uma maneira de afastar todas as pedras do caminho.
O vi por diversas vezes carregando sua lata de querosene ao ombro cheia de pedras, as sobras do calçamento da Cícero José do Nascimento. Pedras que seriam uma a uma fragmentadas sob as pancadas vagarosas e certeiras do Zé Melé. Era de fato um ofício para gente forte e corajosa.Seu principal combustível – uma cachacinha que mantinha pronta sempre ao alcance da mão. Foi um 'apreciador' inveterado da branquinha. Aos domingos gostava de acompanhar o futebol local no ‘Romãozão’. Ocasiões em que o rádio e o cavaquinho tinham um lugar garantido. Peregrinava pelos bares tocando seu cavaquinho e cantando suas canções favoritas... no final instigava o freguês sempre a lhe pagar uma cachaça. Também gostava de bebiricar pela feira-livre de Aurora.
Ainda em 1989 lembro do Zé participando do Festival da Canção na ABA, incentivado que foi pela platéia entusiasmada chamando seu nome num frenesi... mais pela gozação do que pela música que ele cantava – a Volta do boêmio de Nelson Gonçalves, com transmissão ao vivo da rádio Vale do Salgado AM. No final, para a surpresa e a alegria de todos, Zé Melé abiscoitara o segundo lugar. Foi literalmente ovacionado pelos presentes. Uma conquista consagradora. Recordo da felicidade do Zé ao receber sua medalha, o troféu e a premiação. A entrevista aos radialistas: Barbosa Filho e Furtado Guedes. Saiu da ABA como se fosse um ídolo popular. Durante anos carregou sua medalha ao peito até perdê-la(não se sabe onde), disse-me certa feita ele, um tanto quanto desolado.
Outra vez, quando participávamos com a seleção de Aurora da Copa Difusora em Cajazeiras-PB o Zé com aquele seu jeitão moroso nós pediu permissão para também ir conosco. O que foi prontamente atendido. Foi a animação do nosso ônibus. Cantou e tocou seu cavaquinho a viagem inteira, tanto de ida quanto de volta. Mais de ida, porque na volta estava mais pra lá do que pra cá. Havia bebido além da conta. Zé Melé foi a atração da concentração, às ruas de Cajazeiras até nas arquibancadas do estádio 'O Perpetão'. Ficamos em segundo lugar na competição, mas Zé Melé não se importou muito com o resultado... Comemorou com seu cavaquinho como quem comemorava a conquista de uma copa do mundo. Aquela cena foi-me algo inesquecível.
Vi a tristeza que se apoderou do nosso Zé quando roubaram o seu cavaquinho. Nos últimos tempos, mesmo depois de conseguir se aposentar, Zé Melé não era mais o mesmo. Faltava-lhe algo. Talvez a antiga alegria e o entusiasmo que o seu parceiro-cavaquinho tanto lhe proporcionava. Não sei quem fez tamanha maldade em surrupiar-lhe aquele instrumento quase sagrado. De uns tempos para cá não havia mais lhe visto como antes, amiúde. Agora de súbito fomos informados que o nosso Zé partira para o andar de cima. Foi-se sem ao menos se despedir dos aurorenses, vez que falecera(dizem de uma cirurgia) na distante São Paulo onde possuía alguns parentes.
Mas digamos ao menos que o Zé Melé não morreu... Apenas foi atender um chamado de São Pedro para tocar seu cavaquinho lá no céu ao lado de Deus.
"De onde é que esse coco vem/Todo coco tem azeite/Mas esse não tem (Bis)/O braço do mar não tem cotovelo/O caranguejo anda/Mas não é pra frente/Revolver tem cano mas não é torneira/Cachaça não dá rasteira/Mas derruba gente/O prego tem cabeça mas não tem juízo/O cabo da vassoura/Não prende ninguém/A mão de pilão nunca bateu palmas/Agulha costura e só anda nua/Na estradaque vai pra lua/Não se vê poeira/O trobonista toca com a boca fechada/O sino toca com a boca aberta/Quem roubar ladrão eu jamais acuso/Mulher não é parafuso/Mas agente aperta." Esta música do Pinduca, intitulada 'Coco Sem Azeite', era uma das favoritas cantaroladas por Zé Melé pelos bares e esquinas da Aurora.
Zé Melé - 15/08/38 - 15/03/2009.
Por: José Cícero
Aurora-CE.
Foto: Zé Melé recebendo a medalha das mãos da saudosa professora Evandra 1990.

Poesia: Aquecimento Global


Sapo Dourado Panamenho
Da floresta americana
Beleza pura que emana
Da natureza em desenho
Amarelo, delgado e pulador.
Afilado, gentil e hospitaleiro.
Cantando no lindo desfiladeiro
Nos bosques um hino de amor
Predador do equilíbrio natural
No habitat rico dos pampas
Desliza no declive das rampas
Numa felicidade sem igual
Dos rios, lagos e florestas.
Vaidoso no passeio matinal
Não vê o aquecimento global
Devorar sua história sua festa
O Fungo espera para atacar
O Planeta deu sinal de alerta
O fungo voa como uma flecha
O Sapo não vai mais cantar
Amarelo é a cor da atenção
Do sapo panamenho dourado
Da existência já foi tirado
Mais um ser em extinção
Por: Prof. Luiz Domingos de Luna
Mestre da Ordem Stª Cruz
de Aurora-CE.

Estiagem já começa a preocupar rurícolas aurorenses

Falta de chuva já começa a preocupar comunidade de Aurora.
Começa a gerar preocupação a atual situação da quadra invernosa em Aurora assim como em toda região do Cariri. A irregularidade com que as precipitações pluviométricas ocorreram até agora, vem sendo motivo de grandes celeumas e interrogações por partes dos agricultores aurorenses. Preocupações que também atingem a sociedade de um modo geral, visto que Aurora como a maioria dos municípios do Cariri e, por extensão de todo o interior cearense têm suas bases econômicas alicerçadas na agricultura e na agropecuária. De modo que as previsões não são nada animadoras para a consolidação de uma quadra invernosa pelo menos nos padrões médios dos últimos anos. O prefeito municipal Adailton Macedo também já demonstrou sua cota de preocupação em relação ao problema. Tanto ele, quanto o seu secretário de Agricultura José Dácio já começam a pensar novas estratégias de como enfrentar o problema. Conversações estão sendo encaminhadas com alguns dos principais segmentos ligados ao assunto a nível municipal e estadual. "Ao que tudo indica, estamos caminhando para mais uma seca verde", confidencia o agricultor José Serafim, 65 anos, que matêm seu roçado no sítio Recreio. Conforme levantamentos, a última chuva que banhou o município aconteceu no dia 18 de março e de lá para cá apenas 346.8 mm foi o total das chuvas que já atingiram os quadrantes aurorenses. Uma marca realmente inferior comparada ao mesmo período do ano passado. Uma estiagem não está descartada, afirmam em uníssono os especialistas, enquanto boa parte dos rurícolas ainda acreditam no restabelecimento do ciclo invernoso, como dizem na “boa e sempre necessária providencia de Deus”. Caso a seca verde venha a se confirmar na prática, toda a estrutura econômica de Aurora será fatalmente afetada, assim como de toda região sul caririense, dizem os especialistas.
Por: José Cícero
Aurora-CE.

quinta-feira, 26 de março de 2009

artigo: Afinal quem foi Che Guevara?



Por.Fernando Sousa, do jornal o Público
Vamos continuar a não saber quem foi Che, mesmo depois de "O Argentino" e "Guerrilha", filmes de Soderbergh. Os mitos não se deixam tocar.E pronto, aí vem o "Che" e a coincidir com os 50 anos da Revolução Cubana, de que o guerrilheiro argentino, tornado cubano, tornado do mundo, tornado dos gadgets e das T-shirts, foi um dos autores. É um filme para ressuscitar um tema recorrente: afinal quem foi ele? Vamos continuar a não saber, talvez por ser da natureza dos mitos não se deixarem tocar. O filme chega sem trunfos na manga e com humildade. Numa entrevista à rádio espanhola SER, quando o díptico - "Che: O Argentino" e "Guerrilha" - se espalhou por quase quatro centenas de salas de cinema do país, o homem que deu corpo e densidade ao herói, Benicio del Toro, disse que todos deram o máximo por um trabalho desprendido. "Ninguém conhecia muito o 'Che' ou a história de Cuba e durante a pesquisa aprendemos muito; não queríamos inventar nada. É impossível fazer um filme sobre 'Che'; mas nós tentamos."
A primeira parte cobre o período de 1955 a 1959 e começa com um mergulho nos tempos da clandestinidade na Cidade do México. É a casa de Maria Antónia, os encontros à sucapa da polícia, a procura de um barco para desembarcar em Cuba, o campo de tiro de Los Gamitos, as traições, a compra do Granma - sabe-se lá porque é que um tal Robert Eliksson, o seu proprietário, lhe chamou assim - que levaria 82 homens. Fidel (no filme, o mexicano Demián Bichir) já tem todos os trejeitos e a vertigem dos discursos que o acompanharão o resto da vida. O jovem médico argentino já diz "che" por tudo e por nada. São cenas com poucos pormenores, mas Soderbergh explicou também várias vezes que nunca quis fazer um documentário. O resto é a viagem, o desembarque, o caminho para Alegría de Pío, a guerra nos pântanos e na florestas, debaixo do ronco dos "Biber", os aviões Beaver da ditadura, a abrir caminho para a Sierra Maestra, os primeiros mortos da coluna, a formação da guerrilha que fará Fulgencio Batista fugir e tomar Santa Clara, e Ernesto "Che" Guevara nas Nações Unidas, em 1964, a explicar a pureza da revolução cubana, todo o trajecto do Movimento 26 de Julho, desde o assalto a Moncada. Agrada a sobriedade das paisagens, o ritmo pausado, ainda que constante, sem altos e baixos do argumento. Gosta-se da ausência de sensacionalismos, preenchida com a onipresença de Benicio del Toro, que passará para a segunda parte tão forte como desde o primeiro momento em casa de Antonia.
Adere-se, quase por osmose, por via do espantoso ator porto-riquenho, ao homem que já era lenda antes de se saber dele na Bolívia e que a morte, em La Higuera, só tornou uma história maior. Mas fica-se com a sensação de que só se falou no guerrilheiro, e mesmo assim só de alguns momentos. A asma, as mulheres, os fuzilamentos... Em nenhum momento do filme aparece, por exemplo, a explicação da asma - a pieira, o suplício do guerrilheiro, que enche a sala e nos obriga sem querermos a encher os pulmões. Nada se diz sobre as mulheres da vida dele. Como não se fala de um simulacro de fuzilamento que aplicou a três dos seus homens ou das condenações à morte.
fotos: internet

sábado, 21 de março de 2009

22 de março: O mundo é das águas




Viva a água viva! E o planeta viverá para sempre sem nenhum transtorno ambiental.
Instituído pela ONU deste 1992, o dia 22 de março tem sido dedicado desde então, como o 'dia mundial da água'. Razão pela qual este domingo, se reveste de um colorido especial. De um lado pela importante alusão comemorativa, por outro, pela feliz tentativa em despertar na sociedade de todo o mundo, a atenção necessária para a problemática que ora aflige a humanidade inteira.
O 22 de março é indubitavelmente uma data das mais relevantes para a tomada de uma nova consciência ecológica a partir das discussões que o tema poderá fomentar nas pessoas; independente de cor, religião ou classe social. Por que o que está em jogo é a própria sobrevivência dos seres vivos. A água como símbolo maior da vida precisa ser de fato encarada como uma questão de vida ou morte.
Da forma como a humanidade trata a sua água, residirá a chave para o futuro, não apenas da espécie humana, como também de todas as diferentes formas de vida biológica que habita a nossa biosfera. O tema deste ano dará ênfase especial ao compartilhamento das águas entre as nações. De tal sorte que hoje a própria paz internacional dependerá e muito, da presença da água nas suas relações. Com 2/3 da terra formada por água parece impensável imaginar que vivenciamos uma crise da água. Mas, o fato é que 97% dela estão nos oceanos, portanto salgada. 1,75% compõem as geleiras, 1,24% compõe os rios subterrâneos e apenas(pasmem) 0,007% desse total está disponível para o consumo humano. Sem nunca esquecer as enxurradas dos esgotos despejados sob a forma de lixo e outros poluídos industriais nos rios, lagos e mares. Como se vê precisamos cuidar melhor da água que nos resta. A situação é deveras, periclitante...
Há quem vá mundo mais além no seu nível de importância vital, como sendo fundamental até mesmo para outros lócus universais. E como sendo o bem mais preciso do globo, a água é motivo também de sérias preocupações, provocando por seu turno, intensos debates em diferentes nações, através dos organismos internacionais ligados ou não as discussões da biodiversidade e dos recursos naturais.
Tida no passado como um recurso natural inesgotável e, absolutamente renovável, a água vem sofrendo ao longo da história humana uma série interminável de agressões que vai desde o mero desperdício até os mais graves tipos de poluição. A cultura do descaso em relação à água é portanto por demais extensa e ao que tudo indica a evolução do conhecimento científico-tecnológico, assim como do próprio gênero humano parece não ter contribuído muito para a formação de uma nova consciência crítica e popular em relação ao tema. Dai a razão de todo este descaso.
Há uma espécie de despreparo e leniência até mesmo dos governos e das instituições de ensino para trabalhar a questão da água junto à sociedade. Noções elementares para uma boa convivência com água são desprezadas cotidianamente. Uma onda de imensa ignorância parece rondar o cotidiano das pessoas. Para onde quer que se olhe sempre é possível encontrar uma ação predatória, agressiva, errônea, inadequada no tocante a este divinal recurso natural.
A péssima maneira com que nos relacionamos com a água é uma demonstração evidente da nossa pequenez evolutiva, do ponto de vista da nossa consciência ecológica. Não há mais tempo para ilações abstratas acerca do perigo que começa a rondar a nossa única casa(o planeta). Ou mudamos nosso modo de nos relacionar com a natureza ou teremos daqui a pouco, que pagar um alto preço pela nossa teimosia e ignorância(se já não estamos pagando). A água que constitui a base da vida de todas as espécies planetárias sua preservação portanto é uma necessidade imperiosa que não aceita mais delongas.
Chegamos ao limite das agressões aos recursos naturais... Nossa destruição total não é mais uma possibilidade absurda, extravagante: é uma realidade possível. Como dissera – uma verdade inconveniente. Ninguém em qualquer parte do planeta está imune de sofrer as duras conseqüências da maldade que acumulamos pela história afora contra a natureza sua flora e sua fauna.
Neste domingo, 22 de março, é preciso que todos os seres humanos reflitam seriamente sobre aquilo que cada um tem feito pela mãe-natureza. Ela que nos deu tudo. E o que na verdade fizemos em termo de retribuição? Uma reflexão que deveria a partir de então, valer pelo ano todo, pela vida toda. Pelo futuro que haveremos de deixar para nossos filhos, netos assim como pelos animais que também são os nossos irmãos de caminhada.
Neste domingo, 22, dia internacional da água, urge que pensemos na natureza, a partir de um mundo sem fronteira. Numa nova mudança de paradigmas. Numa possibilidade de mudança efetiva das nossas ações (por mais pequena que for) no sentido de uma nova vida baseada na compreensão de que somos todos filhos da natureza. Por conseguinte, irmãos das águas, dos bichos, dos micróbios, das plantas, do solo, dos pássaros e, sobretudo do homo sapiens.
Que a água depois de ter nos dado a vida, que nos liberte agora dos grilhões da nossa própria ignorância e teimosia. Para uma vida em harmonia, holística de convivência e desenvolvimento sustentável com base na ética na tolerância e no respeitos aos recursos naturais como um todo.
Viva a água viva! Porque a água representa o mundo e a nossa própria vida ambiental.
Por José Cícero
Secretario de Cultura, Turismo e Desporto
Aurora – CE.

Parada Musical: Emburrecimento das massas a pleno vapor

Cinco das 20 músicas mais tocadas no Rio são de funk, ausente das rádios paulistas. Graças aos czares do gênero, temos o privilégio de ouvir veiculadas no Rio obras primas como "Aquecimento das danadas" com Jonathan Costa e "Quero beijar a noite inteira" com Gaiola das Popozudas. Rádio é cultura, ki beleza. Entre as gringas no Rio salva-se apenas “Viva la vida” com o Coldplay, um verdadeiro diamante de mil quilates se comparado a James Blunt, Mariah Carey, Leona Lewis, Britney Spears. Fala sério.
São Paulo sofre de outras pragas, entre elas Alexandre Pires, Grupo Sorriso Maroto, Leonardo e Bruno Marrone. Na parada dos mais vendidos da revista Sucesso CD, as coletâneas caça níqueis que as gravadoras lançam para fazer caixa ocupam 14 posições, com o "Perfil" de Ivete Sangalo em terceiro lugar, uma cantora que até agora parece à prova de exaustão porque canta até em enterro de indigente se for convidada. Coletâneas de Gonzaguinha, Richard Clayderman (argh), Djavan, Benito de Paula, Márcio Greyk, Clara Nunes, Shit-ãozinho e Shit-toró estão na parada. Material antigo que contrasta com os discos recentes de carreira, estes mais caros que estas coletâneas, vendidas muitas vezes a menos de 10 reais. Se baixa o preço, o consumidor compra o produto oficial.
Um e-mail da Universal Music faz uma terrível ameaça: Sai dia 27 o CDVD de Cláudia Leitte gravado em Copacabana diante de 700 mil fãs. Tá, Vox populi vox dei, mas é outra artista a serviço do emburrecimento das massas. E essa carreira solo dela é o maior caô. Claudia é dona do Babado Novo que pode continuar com outro cantor ou continuar a acompanhá-la. E o repertório é exatamente o mesmo. Mudou para ficar no mesmo lugar. O “Multishow ao vivo Ivete Sangalo no Maracanã" ainda está em oitavo lugar na parada com mais de 400 mil cópias vendidas do CD e mais de 200 mil DVDs. Será que este povo todo vai prestigiar também Dona Cláudia Leitte? Com o rolo compressor de divulgação que vem aí é bem capaz.
As elites brasileiras nunca se preocuparam em educar as massas, uma política presente até os dias atuais. Povo ignorante é povo submisso e a música que toca nas rádios é um poderoso instrumento desta ideologia.
Por: Jamari França - 16/6/2008
Fonte:
http://oglobo.globo.com/blogs/jamari

sexta-feira, 20 de março de 2009

Música atual, nossa cultura em pleno caos


Entre muitos atributos o Brasil é conhecido lá fora pela riqueza da sua historiografia musical. A MPB enquanto estilo é uma das nossas mais expressivas identidades a nos mostrar para o mundo. Algo que nos eleva e nos projeta muito além dos conceitos musical-artísticos das Américas e alhures. A música, portanto foi durante muito tempo um legítimo produto de exportação made in Brasil. Nosso cartão-postal tal qual um considerável passaporte para nossa intervenção e inserção na cultura e na história mundial.
Porém, diante do atual quadro de descalabro em que se encontra o movimento cultural brasileiro e em especial, da rica musicalidade regional, tudo o mais inspira preocupação e cuidados. Há, por assim dizer, um claro e vergonhoso estado de calamidade a se abater por sobre a nossa música popular, notadamente a de raiz. Aquela que por sinal, mais nos identificava com a nossa cultura cotidiana, história e outras manifestações significativas do nosso imaginário. A música diante deste absoluto caldo de contradições culturais representa apenas a ponta do iceberg. A crise de talento e de idéias também 'infecciona' diversos estratos do fazer cultural brasileiro, sobretudo pela inexistência de uma política de governo mais agressiva, menos excludente e que também priorizasse o ambienta da escola e da periferia.
Este descuido vai aos poucos se generalizando, ferindo de morte diversos outros setores da nossa máquina cultural. Isso porque, quando a sociedade se acultura todo o resto desmorona, fragiliza, corre perigo. Para quem acredita ser a cultura a verdadeira identidade de um povo; do jeito que vamos daqui a pouco não teremos quase mais nada para defender e se preocupar.
É preciso conter todo este processo de substituição sistemática das nossas expressividades culturais. Por uma cultura alienígena, que não é nossa. Descomprometida com o belo e padronizada ante um modismo imbecil que só idiotiza nossa gente, especialmente a nossa bela juventude.
Vivemos assim uma realidade digna de envergonhar qualquer nação do globo que preze de verdade a sua identidade. O que estão fazendo com a nossa cultura musical (tradicional-regional) é um atentado contra a nossa inteligência. Um crime de lesa pátria para o qual todo brasileiro deveria se rebelar enquanto há tempo. Um verdadeiro estupro cultural, algo inaceitável para uma nação que se diz pronta para ocupar uma posição hegemônica na América Latina, bem como no além-fronteira. Cuidar bem da cultura é cuidar com carinho do presente e do futuro.
Uma nação que não valoriza e nem preserva a sua cultura não tem nenhuma perspectiva de futuro grandioso.
Qualquer estrangeiro que vier ao Brasil, logo pensará que a nossa música é essa que toca no rádio, nos domicílios, nos clubes, nas praças e na TV. Quase tudo o que se ouve, se curte e dança pelo país afora no momento atual constitui-se num lixo, para não dizer outro nome. Qualquer coisa, menos música... Coisa do tipo: Pagode rasteiro, sertanejo choradeira e algo ainda pior: uma praga a se espalhar pelo Nordeste inteiro e por quase todos os quadrantes do Brasil: forró descartável, descaracterizado, que de forró mesmo não tem nada.
O que as emissoras brasileiras estão fazendo(com rara exceção) é um típico “arrastão” anticultural. Uma conspiração em desfavor da nossa história musical que compromete seriamente todo o nosso velho sonho de futuro.
O que ora se toca nas nossas rádios é péssimo. Nada condizente com o potencial que possuimos nesta área. Como se deliberadamente subestimassem a inteligência, assim como a paciência da nação verde-amarela. As “bandas” de forró como são chamadas, descaracterizam nossa música e até o próprio mercado fonográfico. A pobreza é tanta, que os próprios nomes destas “bandas” pecam mortalmente até na formulação dos seus títulos. Mais um atentado à gramática, a língua portuguesa, as idéias, a poesia, enfim ao bom trato dos vocábulos poéticos. As letras de tais composições são sofríveis. Puro mal-gosto. Pura pobreza, desnudando às nossas vistas, toda a miséria da nossa música miserável. Uma droga que só entorpece, deseduca e agride tanto a ética quanto a moral da nossa sociedade, diante de um típico show de besteirol. Inclusive pela baixaria que também se expressa na obscenidade, palavras chulas, imorais, de baixo calão. Um desserviço prestado a juventude e a nação e ainda por cima cobram por isso.
Penso que a música como um patrimônio do Brasil devia ser bem mais protegida, sobretudo pelo poder público. E não me digam que a culpa é do nosso povo. Porque isso não é verdade. O povo não tem culpa da educação que não recebe. O povo só pode gostar daquilo que conhece e lhe oferece. E o que estão fazendo com nossa gente é uma verdadeira lavagem cerebral. Por que será que os europeus, os alemães, por exemplo, adoram tanto a música erudita? Ora, simples. Lá a música começa como uma disciplina escolar. As emissoras(de rádio e TV) primam pela qualidade, do contrário perdem a audiência e até a concessão pública para operar.
Convenhamos: aqui no Brasil se querem continuar nos oferecendo o que não presta, pelos menos permitam que as pessoas possam também ter o direito de experimentar o outro lado da moeda(ou do disco?) – ou seja, a música de qualidade e de raiz. Não deixem que a nossa fantástica MPB morra pela nossa passividade e indiferença.
Presumo que até Deus seja também uma energia musical. Viva a MPB! Abaixo o estelionato musical.
Por: José Cícero
Aurora – CE.

terça-feira, 17 de março de 2009

Região do Cariri: Agora sim o petróleo é nosso!

A possibilidade da existência de jazida de petróleo no Cariri pode provocar uma verdadeira revolução na economia da região sul cearense.
Por José Cícero da Revista Aurora*
A velha expressão “O petróleo é nosso” que noutros tempos encarnou o próprio sentimento de resistência popular contra o estado ditatorial de exceção, parece se renovar agora, não mais como uma bandeira de luta política simplesmente como no passado. Porém como uma nova empreitada em favor de um Brasil soberano e independente e, que necessita se firmar de vez, perante o mundo expulsando o fantasma do imperialismo mundial político, econômico e financeiro.
Como há muito se desconfiava, o Brasil ao contrário do que nos diziam os americanos, tem sim um potencial petrolífero a ser explorado e com grandes possibilidades de sucesso. Desde a sua costa litorânea, a Amazônia e o interior do Nordeste o país do Lula apresenta por assim dizer, um filão de ouro, que logo irá superar a própria Venezuela(com a data vênia do bravo Hugo Chávez), sobretudo pela nossa dimensão geográfica. Uma realidade que a partir de então, irá incomodar e muito, os intentos políticos e expansionistas da nação ianque.
Fica portanto, cada vez mais claro que a intenção do projeto de privatização engendrado pelo chamado consenso de Washington durante o governo de FHC era, igualmente, uma atitude deliberada de enfraquecimento das nossas empresas estratégicas como a CSN, Vale do Rio Doce, o sistema ferroviário e, principalmente, a Petrobrás. Uma política intencional de comprometimento ainda maior da nossa própria estrutura econômica e produtiva - os pilares da nossa soberania. A autosuficiência do Brasil neste campo assusta deverasmente, os caciques do capitalismo mundial.
Um dos principais fomentadores de estados bélicos pelo mundo afora, tem sido o desejo insano das grandes potencias(leia-se EUA) pelo domínio do petróleo existente nas diversas nações do planeta. O petróleo é, por conseguinte, um presente do passado para o futuro das nossas gerações. Por isso precisamos defendê-lo com unhas e dentes. O povo caririense que o diga...
A perspectiva da exploração petrolífera na região do Cariri é por demais animadora em todos os sentidos que se possa imaginar. Com a tecnologia que temos por intermédio da Petrobrás poderemos, através de prospecções profundas no pré-sal da nossa geologia extrair a riqueza necessária para a redenção dos irmãos sertanejos e quem sabe, a verdadeira independência do Brasil do julgo internacional.
Uma feliz desconfiança que vem se arrastando desde os anos quarenta quando se ventilou a priori a possibilidade de se encontrar o “ouro negro” na região de Patativa. Desde a chapada do Araripe até o sertão paraibano. Como os americanos de Obama irão engolir mais essa. Já não bastava a incômoda liderança do Brasil na tecnologia dos biocombustíveis e na exploração de águas profundas?
O petróleo nunca foi tão nosso como deverá ser a partir de agora. Para tanto, é preciso o engajamento de toda a sociedade caririense, além dos demais segmentos sócio-político, civil, empresarial e acadêmico, numa corrente que obrigue a velha elite a não mais nos ludibriar com mais uma falácia histórica.
O solo do Cariri que já produziu tantas riquezas e talentos para o Ceará, o Brasil e o mundo nos oferece agora mais uma dádiva para que possamos enfrentar o futuro com mais altivez. Cabe a nós lutar por isso sem demora... Sem no entanto perder de vista a necessária visão de progresso sempre aliada a sustentabilidade ambiental.
O município de Aurora, por exemplo, precisa, também, entrar nesta linha de frente da prospecção mineradora e petrolífera. Quem sabe, a partir das célebres minas das Serras do Coxá, Diamante e Morro Dourado que no passado foram motivos de disputa, envolvendo o padre Cícero, Floro Bartolomeu, Conde Van de Brule e potentados regionais. Como se vê foi preciso numa época muito mais difícil, uma a visão aguçada de um homem que esteve além do seu tempo e dos que o cercavam - o padre Cícero. Ele, que quase sozinho mobilizou toda uma região, malgrado as incompreensões de toda sorte; produzindo e exportando, (pasmem) a própria matéria prima da borracha; extraída de uma planta nativa da caatinga sertaneja - a Maniçoba.
Com este recurso natural de primeira linha(que é o petróleo) o Cariri recuperará o tempo perdido, galgando assim uma nova posição de destaque no cenário político e econômico do Ceará, do Nordeste e do Brasil. Nem que para isso tenhamos que nos rendar a capacidade de luta e o empenho de políticos da capital com uma visão estratégica e combativa em favor do povo cearense em geral, como o fazem o senador Inácio Arruda e o deputado Chico Lopes.
Valeu camaradas! O Ceará e o Cariri confiantes lhes agradecem de punho cerrado, alegria no rosto e o coração à flor da pele.
O sertão vai virar mar para que a profecia possa enfim, ser cumprida. Quem sabe um mar de bonança para os que sempre acreditaram na sua capacidade de resistir bravamente às agruras do clima e a insensibilidade dos homens.
O petróleo do Cariri é Nosso!! Hoje muito mais do que ontem.
Por: José Cícero
Secretário de Cultura, Turismo e Desporto
Aurora-CE.
Fonte da foto>Bombas de petróleo © Sgv Dreamstime.com

Cultura Sertaneja oprimida e abandonada pela televisão*

Cantada e decantada em verso em prosa, nutrida e destilada como a arte pura da criação do sertanejo, comparada ao paraíso perdido, o jardim do Éden, á Canaã, a terra de leite e mel, a pureza performática de uma rosa, é assim que é tratada na literatura, na história, na vida, seja no plano racional ou emocional, mas esta pobre e amarelada cultura não passa de uma substituição do pleno pelo não pleno, do básico pelo não básico, do total pelo não total, do ideal pelo não ideal, do todo pela parte senão vejamos:A geladeira - um pote pingador, Uma cama confortável - uma rede de tear, um almoço digno - um prato de angu, um automóvel - a cangalha de um jumento coiceiro, uma empresa - um tabuleiro improdutivo, uma caneta - uma enxada de três libras, um vigilante - uma cadela cheia de carrapato, um ar condicionado - um abano, um fogão a gás - um fogão de lenha, um rádio - uma gaiola de canário, o telefone - os fogos de artifício, a praia - um açude lamacento, o elevador - um pé de coqueiro, a sauna - é o próprio trabalho. A murada da mansão - uma cerca de faxina, a mansão - Uma tapera de barro cru, o caviar - é ova de curimatã, uma maleta 007 - é saco de nó cego, o avião - é uma pipa voadora, a prancha de surfe - é o couro seco de carregar capim, o teclado - é um pé de pode, o carnaval - é um adjunto de trabalho, Uma missa de gala - é uma novena, uma marcha nupcial -é o miseré, o escritório - é o alertai, o relógio - é um galo goguento no terreiro, ou o jumento, durante o dia, um concerto musical – uma ópera de penitentes. ///
Mas ainda bem que a televisão é a própria televisão e a novela é a própria novela, ainda bem, , pois para quem saiu do sertão nada mais gratificante do que incentivar, louvar e viver as reminiscências do sertão, mas para que não saiu nada melhor do que ver o modo de vida dos egressos sertanejos pela televisão e adeus Sordade!!!.
Por: Prof. Luiz Domingos de Luna
Aurora - CE.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Ação Social: Secretaria promove oficina sobre relações humanas

A Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento da Assistência Social do município de Aurora, realizou nesta segunda-feira, 16, uma movimentada Oficina sobre o tema 'Recursos Humanos'. O evento aconteceu as 13:00h no auditório do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) a Rua Sebastião Alves no centro da cidade. O encontro visou ainda capacitar todos os funcionários lotados nas Secretarias de Ação Social, Centro de Referência da Assistência Social e Centro Social Urbano(Casa da Família-CSU). Dois temas foram abordados no decorrer do evento: no primeiro momento foi trabalhado o tema 'Relações Humanas', com o objetivo de preparar os servidores municipais de como lidar com o cidadão no dia-dia, "tendo em vista que somos agentes a serviço da comunidade" enfatizou a secretária Socorro Macêdo. Já no segundo período o lema trabalhado foi a 'auto-estima e motivação', que, conforme a palestrante "tende fazer com que o funcionário possa desenvolver suas atividades com otimismo e buscando sempre o desenvolvimento e o bem comum de todos". Os trabalhos foram coordenados pela psicóloga Denise Gomes, que durante toda palestra procurou mostrar a todos os participantes a importância de se exercer uma função com motivação e entusiasmo, sentindo prazer naquilo que faz e, segundo ela, que se torna mais fácil ter uma convivência mútua entre as pessoas. A coordenação da Ação Social do município salientou na ocasião que estas oficinas deverão aconter mensalmente. Uma boa maneira de capacitar ainda mais o funcionalismo público municipal, concluiu a chefe da pasta.
Da: Assessoria de Imprensa/PMA
Luiz Neto Xetão

Atualidades: A bomba química da indução alimentar dos nossos adolescentes

Com o advento do crescimento do capitalismo direcionado ao marketing agressivo, toda sorte de mazelas, vem assolando o já frágil convívio do tecido social planetário. Pois à medida que cresce a tecnologia, diminui o campo de trabalho, obrigando os seres humanos a ter uma vida ao ritmo das máquinas, isto vem trazendo inúmeros prejuízos para a convivência dos seres humanos. A adaptação desta selvageria da modernidade e da concentração de renda, pois, senão: vejamos as pessoas hoje em dia não podem escolher o seu cardápio, ou ter um momento para as refeições. Na falta disto, vão se alimentar nas grandes cadeias Capitalistas de distribuição de alimentos que oferecem às pressas, -refrigerante com hamburguer- feitos tudo a base de gordura saturada e colesterol, além da alta taxa de glicose, razão esta, de está a cada dia aumentando em forma de progressão geométrica os casos de crianças com problemas cardíacos, diabetes, e outras mazelas como o stress, depressão e outros. Os seres humanos não são máquinas, não podem responder o interesse dos grandes mercados de capitais com subserviência, como a pressa, como a falta de horário para alimentação.
Estamos entupindo nosso organismo de colesterol, triglicérides e glicose. Iremos pagar um preço alto pela ingestão de alimentos degradadores de nosso próprio organismo, bem como, iremos criar uma geração de obesos, porque não dizer de crianças obesas, stress, depressão. Tudo isto para nutrir a ganância de um marketing agressivo e bem aparelhado, sem a devida preocupação com a qualidade alimentar, na visão somente do lucro rápido, passando por cima da saúde de nossas crianças e nossos jovens, com alimentos que são verdadeiras bombas químicas alimentares, a curto e em longo prazo.
Por: Luiz Domingos de Luna
Professor, Pesquisador e escritor.
Mestre da Ordem Stª Cruz de Aurora-CE.
***Comentário do JC:
Nobre professor Domingos,
Você toca num elemento crucial para os nossos tempos modernos que é a questão da nossa atual Dieta Alimentar. O que se tem hoje na verdade é uma bomba relógio. Uma dieta a base das temíveis gorduras trans, colesterol LDL e muita, muitíssima química sob o expediente de diversos conservantes, aromatizantes, acidulantes, além de hormônios e (pasmem) até antibióticos(sobretudo no frango) o que na verdade, em muitas destas substâncias, a ciência sequer tem conhecimento do que podem causar ao nosso organismo. Daí os diversos e inacreditáveis tipos de cânces e outras patologias afins. Daí os príons, enzimas, vírus e bactérias estranhas(super-bactéria) etc. Daí a obesidade a se espalhar pelo mundo causando uma série interminável de complicações para a saúde das pessoas...
Realmente estamos comprometendo o nosso futuro com uma "geração obesa". A obesidade já é uma das doenças que mais matam no mundo. O consumo de carnes também é algo preocupante. Estamos tansformando nossos estômagos em verdadeiros Cemitérios. Nossa "máquina" , digo, nosso organismo Não foi criado para sermos canívoros não e tampouco, para uma alimentação quase alienígena, química, sintética etc. A modernidade do capitalismo soterrou a nossa base de alimentação tradicional(saudável e necessária). E o resultado está aí saltando aos olhos de todos: basta olharmos para o corpo, a anatomia das nossas crianças, jovens. e idosos. Parabéns pela abordagem do tema que julgo ser da mais alta relevância, bem como de grande valia para o processo efetivo de uma educação mais salutar, inclusive nesta questão fundante que é o debate em torno da alimentação dos dias hodiernos, que inevitavelmente irá descambar num melhor entendimento para uma boa saúde popular. Fico feliz, também pelo fato de o meu tema para a monografia de especialização em Biologia ter sido neste mesmo ângulo de abordagem e preocupação: Uma alimentação à base da química em desfavor da saúde e, em oposição a dieta alimentar do nosso passado(natural).
Parabéns,
José Cícero -
Blogs de Aurora e do JC
Revista Aurora.

domingo, 15 de março de 2009

Viva os 50 anos da Revolução Cubana!

Em janeiro deste ano comemorou-se meio século de um dos acontecimentos mais emblemáticos e marcantes da história política mundial, notadamente no que se refere a América Latina e Caribe. Trata-se da célebre, cantada e decantada Revolução Cubana; deflagrada em 1º de janeiro do distante ano de 1959. Um legado que a historiografia mundial ainda vai levar muito tempo para apagá-la ou pelo menos fazer com que as gerações do futuro possam esquecê-la para sempre( se é que isso seja algo possível).
A chamada revolução dos “Barbudos”, como foi carinhosamente durante muito tempo apelidada pela imprensa, constitui ainda hoje um verdadeiro divisor de água na nossa história(especialmente ocidental) assim como no esquadrilhamento geopolítico planetário de um modo geral.
Isso porque, a revolução da ilha, ajudou de uma forma ou de outra, no processo de realinhamento da velha bipolaridade entre as nações socialista-comunistas e as do sistema capitalistas. Foi ela, por assim dizer, o principal ingrediente que mais apimentou a antiga relação entre as duas maiores e mais poderosas nações do mundo da época: União das Repúblicas Socialistas Soviética(URSS) e os Estados Unidos das Américas(EUA) por intermédio daquilo que o jornalismo e a diplomacia mundial daqueles anos convencionou chamar de Guerra Fria. Realidade esta, corporificada no sistema de blocos, ou seja, o bloco dos países alinhados ao comunismo e o bloco dos alinhados ao capitalismo. Um diapasão que só acenou para uma modesta aproximação durante o enfretamento dos países que se aliaram a proposta ariana de Hitler, durante a 2ª grande guerra mundial. Ocasião em que os soviéticos por meio de Stálin decidiram romper o acordo de não-agressão, enfrentando os alemães num combate dos mais sangrentos da história. Provocando com isso, a primeira derrota do exército hitleriano que, diga-se de passagem, possibilitou a condição sine qua non para a derrocada final do eixo do mal. Coisa que o capitalismo norteamericano sente náusea só em pensar...
A revolução cubana, portanto, até hoje ainda consegue mexer com as mentes e os corações de muitos dos seus adeptos pelo mundo, mesmo depois de 50 anos. Parte desta simpatia se deve à figura quase mitológica de uma dos seus maiores líderes – Ernesto CHE Guevara. Com a sua imagem petrificada no imaginário coletivo de populações espalhadas pelo mundo todo. Justamente as pessoas que viveram todo o romantismo militante ou não dos anos 50, 60 e 70. Nomes como Che Guevara, Camilo Cienfuegos e Fidel Castro não morrem nunca na cabeça desta velha juventude, sobretudo latino-americana, cuja paixão aos barbudos e, em especial a Guevara, se transformara num verdadeiro sacerdócio e, por que não dizer fanatismo? Sim, posto que na vila boliviana de La Higuera onde o guerrilheiro argentino-cubano foi assassinado pelos agentes da CIA ainda é considerado um verdadeiro santo pelos moradores da localidade que o chamam de São Guevara de La Higuera. Dizem por lá que até graças já foram alcançadas sob a intercessão do seu nome. Mas, digamos que essas coisas não passam de meras crendices populares e, são comuns ao longo da nossa história de massacres e de outros acontecimentos impactantes.
Hoje, contudo, as lembranças da revolução se esmaecem, mas não perdem o seu carisma perante as populações, ainda marginalizadas pelo mundo afora. Creio que esta é a principal razão que faz da imagem, tanto do Che quanto do nome de Fidel algo imorredouro, coisas sempre vivas na memória das pessoas. Malgrado todo o empenho da mídia em tentar desmoralizá-los como forma de bajulação do poder capitalista(o neoliberalismo-imperialista) a se espalhar pelo globo.
Enquanto a miséria e a exploração do homem pelo homem, continua existindo como uma lógica maldita entre nós, a revolução cubana assim como os seus ícones guerrilheiros(vivos ou mortos) continuarão na memória de gerações inteiras, tanto do passado quanto da posteridade. Simplesmente porque concentram em si, o sonho coletivo de milhares e milhares de seres humanos por uma sociedade mais justa, igualitária e fraterna – a sociedade do estado socialista democrático.
Viva os 50 anos da revolução socialista de Cuba e seus barbudos históricos, porque nunca será possível matar-se um sonho e, tampouco uma idéia edificante.
Por: José Cícero
Redação da Revista Aurora
Aurora-CE.
Informe-se:
O aniversário de 50 anos da Revolução Cubana chega em um momento desafiador para o único país comunista da América Latina. Em fevereiro de 2008, quando Raúl Castro assumiu a presidência da ilha, ocupada por seu irmão Fidel por 49 anos, criou-se uma expectativa sobre o que aconteceria com Cuba após a saída de cena do homem-símbolo do movimento revolucionário. Para os especialistas ouvidos pela rep
Fonte do Informe: ÚltimoMinuto.

RASTREADORES DE IMPUREZAS: Audiência pública no Congresso Nacional para debater o escândalo da TV Diário

RASTREADORES DE IMPUREZAS: Audiência pública no Congresso Nacional para debater o escândalo da TV Diário

Guerrilha do Araguaia: Memória afogada, não!

O governo Lula tem duas importantes dívidas com a democracia, em particular com os familiares dos mortos, desaparecidos e vítimas de torturas durante a ditadura militar: abrir os arquivos do regime militar; e devolver aos familiares os restos mortais dos democratas que tombaram em combate e dos assassinados na tortura. Este último objetivo, em relação aos mortos na Guerrilha do Araguaia, se tornará inviável com a construção da Usina Hidroelétrica de Santa Isabel no Rio Araguaia. A revista Carta Capital deste fim de semana, em artigo publicado sob o título Memória Afogada, informa que, com a construção da Usina Hidroelétrica Santa Isabel, "desaparecidos há mais de três décadas, os corpos de 58 brasileiros mortos durante a Guerrilha do Araguaia, possivelmente assassinados a sangue-frio ou sob tortura pelo Exército, precisam ser encontrados em quatro anos. Ou cairão, para sempre, no esquecimento".A matéria informa que a usina irá inundar uma área de 24 mil hectares de terras às margens do Rio Araguaia, entre Palestina, no Pará, e Ananás, no Tocantins, exatamente a região onde atuou a Guerrilha.O presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Paulo Abrão, afirmou que "se houver a inundação, será uma irreversível perda histórica". Ele sugere que o governo exija que os construtores da hidroelétrica realizem um levantamento arqueológico forense para encontrar as ossadas dos guerrilheiros. Já o presidente da Comissão de Mortos e Desaparecidos do mesmo Ministério, Marco Antônio Barbosa, afirmou que "Isso é um absurdo, é inadmissível que isso ocorra antes da localização dos corpos".O PCdoB, que encabeçou a guerrilha, tem uma posição francamente favorável à utilização do nosso potencial hidroelétrico para produzir energia. Ressalta a necessidade de rigoroso estudo de impacto ambiental de tal forma que sejam adotadas medidas de mitigação visando reduzir os malefícios causados ao meio ambiente, particularmente em se tratando da construção de obras na Amazônia.No caso da Usina Santa Isabel, em nome da democracia, dos que tombaram na guerrilha do Araguaia e de seus familiares, é inaceitável a realização desta obra sem que haja a devolução dos corpos dos guerrilheiros mortos na região.O Brasil, sob o governo Lula, tem obtido importantes conquistas democráticas. Todavia, alagar a região da Guerrilha do Araguaia antes da devolução dos restos mortais é uma decisão inaceitável e o PCdoB deve atuar junto ao governo, de que faz parte, para que isto não ocorra.Nosso país tem que passar a limpo o período da ditadura militar. Para isto é indispensável abrir seus arquivos, devolver os restos mortais dos combatentes pela democracia e julgar aqueles que cometeram crimes a serviço do regime militar.Estas medidas são absolutamente necessárias para que o país, particularmente sua juventude, conheça o que ocorreu naquele período e o povo fique preparado para impedir que tais fatos não voltem a ocorrer.
*Por: Aldo Arantes: Ex-presidente da UNE e deputado constituinte por Goiás, secretário de Meio Ambiente do PC do B. Fonte: CaririCult

sexta-feira, 13 de março de 2009

Ah, Quem me dera ter o Trem de volta!



Por: José Cícero
Quem me dera ter o trem de volta! Quem sabe com o mesmo ufanismo que ele nos proporcionava no passado. Seria como que fizéssemos todos juntos, uma longa viagem no tempo pretérito sentados confortavelmente nas velhas poltronas do “sonho azul” ou até mesmo na dura rusticidade da sua 3ª classe. Viajar no trem do nosso passado era como passear na mais pura miscigenação das nossas raças, espalhadas pelos sertões adentro.
O trem era um grande encontro social. Uma mistura de conceitos e concepções das mais extravagantes e necessárias para a devida compreensão da vida, do mundo e de nós mesmos. O mais alto e mais puro sentimento de se estar no mundo, como bem dissera certa feita o poeta. O trem era para muitos, uma autêntica dádiva de Deus com o desiderato de amenizar as agruras dos homens.
Que me dera ter o trem de volta! Ouvir de novo as batidas do sino na estação nos dizendo que o mesmo não tardava a chegar ou que já estava prestes a partir. O eterno vai-e-vem da máquina de ferro, trazia e levava consigo sempre uma saudade dolente. Tristeza da partida, alegria do retorno carregado de notícias, riquezas, mercadorias e felicidades. A existência do trem oxigenava as nossas vidas com as suas repetitivas idas e vindas. Era ele, por assim dizer, um grande acontecimento social. Um agente da plebe humana sempre a desafiar as nossas monotonias. Um transgressor de toda a calmaria daquele nosso mundo interiorano. Dando amiúde, uma chacoalhada de entusiasmo nos nossos sentimentos capiau e provinciano.
Quem me dera ter o trem de volta! Como se nos fosse um mergulho profundo na memória. Um retorno aos mais belos e ditosos instantes da nossa meninice ingênua e descomprometida com a posteridade. Talvez uma nova chance para que pudéssemos aproveitar a contento, o melhor das coisas que deixamos para trás... Daquela mocidade alegre, embalada pelos ritmos alucinantes do êi, êi, êi da jovem guarda. Tudo o mais reverberando em nós com a mesma emoção juvenil com que participávamos das velhas e saudosos tertúlias ao som das discotecas dos velhos vinis(LP’s, compact-disc) e, mais adiante das fitas K-7. Como se de novo estivéssemos todos reunidos no banco da pracinha para ouvir as cornetas da difusora Voz do Cariri com Luiz de França e Juarez de Melo em Missão Velha. Ou nos anos idos da Aurora quando se ouvia com raro prazer a Voz do Uirapuru de Moacir Pinto, a Voz do Araçá de Moacir Leite, bem como a mais recente Voz da Cidade com Luiz Domingos, Nenê Saraiva, Erisvaldo Gonçalves, Argemiro Teodósio e tanto outros que noutros tempos emprestaram sua voz, assim como sua inteligência para formatar a gênese da nossa incipiente comunicação provinciana e paroquial. Uma novidade das mais empolgantes para uma época em que toda e qualquer tecnologia sempre estivera inacessível ao nosso Cariri; que não fosse tão somente, a existência, quase como uma graça, do próprio trem apelidado que fora, com o epíteto dos mais sugestivos para expressar a verdadeira identidade da alma sertaneja – o de Maria Fumaça. Uma novidade com a qual se orgulhava toda uma geração que ontem, muito mais do que hoje, sonhava e ansiava com unhas e dentes, puder mudar o mundo. Uma juventude sonhadora diante de uma realidade diferente quase sempre festiva, menos agressiva e civilizada.
Quem me dera ter o trem de volta! Para que com ele, pudesse me redimir das minhas bobagens ante o meu passado. Reconciliar com todas as minhas primeiras namoradas e os meus velhos amigos de infância, de colégio e de futebol. Ouvir de novo o som apaixonante da discoteca dos parques de diversão: Maia, São Severino entre outros. Afinal foram tantos... Curtir as velhas canções que emocionavam o nosso íntimo, bem como a lambada do malabarista circenses - Aldo Sena, Pinduca, Vieira, Solano... Sintonizar o dial da Educadora, Iracema e Progresso para saber em primeira mão das novidaes e dos grandes sucessos do momento que durariam o ano inteiro.
A música também nos vinha pelo trem. Velhos ‘bolachões’ embrulhados em papel de presente ou à mostra, para que todos o vissem e constatassem quão belo e maravilhoso era o colorido e as letras garrafais da sua capa sempre com a inscrição “Disco é Cultura”. E era mesmo... Que nos diga as poucas e célebres gravadoras como: Continental, Tapecar, RCA Victor, Eldorado,Columbia, CBS, RGE, Emi-Odeon, Phonogram dentre outras. Época de ouro, onde a indústria fonográfica primava pela qualidade e não pelo emburrecimento premeditado da sociedade.
Quem me dera ter de novo o ruído gostoso, outrora quase inaudível da velha radiola de maleta( a pilha) e de madeira postas no canto da sala como um troféu, animando com doces melodias o romantismo de toda uma época sem maiores preocupações.
Esta saudade vai muito além daquilo que a linha férrea pôde hoje nos levar. Esta saudade é o verdadeiro trem do passado nos remetendo ao longe como uma carruagem de fogo, queimando agora a nossa falta de bom-senso e de bom-gosto. Uma fantástica máquina do tempo a la Júlio Verne a nos carregar para o fundo de todo tempo que mais desejamos alcançar.
Quem me dera ter o trem de volta! Para que, de novo menino, pegasse eu, bigu no trem do tempo como dantes. Ou permenecesse de novo em meio a multidão de curiosos parados na pedra da estação à esperar aquele acontecimento cotidiano. A pedra da estação foi naquele tempo o coração das nossas cidades. Local onde a sociedade se fazia de vez, igualitária e sociável sem que para tanto precisasse de nenhuma lei imperativa. O primeiro exemplo prático da chamada democracia do povo. O ponto mais atrativo e visitado da nossa urbe populacional. O vértice de todos os grandes e pequenos acontecimentos de uma época sem muitas novidades. A central do fuxico. O cordão umbilical que nos ligava tanto ao mundo, quanto as notícias e as poucas novidades que nos chegavam da capital.
Na pedra da estação aprendemos a acreditar na lonjura geodésica do mundo e das grandes invenções do além-fronteira. A estrada de ferro era a nossa bússola através da qual(ricos e pobres) podiam enfim se situar no mundo da política, da cultura e na história. A linha de ferro nos levava tanto ao mar quanto ao centro da terra como algo nos ligando diretamente ao sonho de uma vida possível e menos enfadonha. Fazendo-nos assim acreditar na felicidade, não apenas como mera utopia, mas como perspectiva de um futuro de grandes realizações. O mundo, a vida, o coronel, assim como o deputado, o padre, o presidente andavam todos no nosso trem do passado. O desenvolvimento andava de trem. Até mesmo o medo de uma geração inteira viajava nos vagões do nosso trem.
Por tudo isso, diríamos por fim, que o trem era a própria dimensão que as nossas mais alvissareiras concepções ingênuas e futuristas davam a ele.
A pedra da estação era o nosso sonho de consumo mais imediato. O ponto central e nevrálgico da nossa paz sempre infinita. O momento alto das nossas paqueras. Espaço livre para os desejos incontidos, beijos, abraços, acenos de adeus, sussurros de prazer, lágrima de despedida, sorrisos de encontro, redundância de “vai com Deus”, negócios financeiros, namoricos, casos de amor escondidos, roubalheira, crime e castigo.
A pedra da estação era um instante eterno de felicidade e festa. Pegar o trem, assim como deixá-lo ali na plataforma era uma conquista. Quase um momento de absoluta celebração.
Era como se deixássemos o mais legítimo sentimento humanista povoar a nossa própria alma.
E uma vez dentro do trem, o mundo num passo de mágica, tomava um novo rumo... Ante os toques ritmados dos trilhos, o apito, o barulho das rodas sobre o ferro a deslizar para o oco do mundo. O balançar compassado do vagão, o freio, as coisas, os bichos correndo muito mais que nós. A lei da física fazendo de todos os passageiros da ilusão, meras cobaias para o devir. E nós, amando tudo aquilo do alto da nossa mais soberba ignorância ou quem sabe, doce ingenuidade.
O cobrador, o calor, o vento, o carro, as vilas e povoados às suas margens, rios, pontes e riachos, mata virgem, roceiros, espaços exíguo, cubículo cheio de gente como a própria pedra da estação que se deixou para trás. Tudo correndo, passando por nós tal qual o passado que ficou também a esperar por nós na pedra da estação.
Quem me dera ter o trem de volta! Para que na próxima estação pudesse de novo apreciar aquele formigueiro humano numa verdadeira exposição ao ar livre do que havia de melhor e mais tradicional na gastronomia cearense. Quisera degustar de novo, tanto com a boca quanto com os olhos e com as mãos aquele rico banquete da culinária sertaneja: O vendedor de água de pote bem dormida na quartinha com a aquele gostinho distante de barro. A macaxeira saborossíma de Missão Velha a que todos diziam ser do cemitério, talvez só por isso fosse tão gostosa. Saborear de novo o pão-de-ló do Arrojado, o sequilho do Sabiá a se derreter na nossa boca. A banana quase afrodisíaca de Baturité, o café aromático do Alencar, o rolete da melhor cana do Cariri, a tapioca de Lavras, a cocada e o alfinim da Ingazeiras, a batida do Crato e o tijolo de buriti. O pastel mais inigualável do Ceará só encontrado na estação de Aurora feito como mágica pelas mãos de Dona Vicência Maciel. Assim como o milho assado, a pamonha do lugar, o almoço nas bancas de madeira na parada de Quixaramobim. O peixe do Salgado seco e assado, o bolo de milho, o fiós, o chapéu de couro, o café torrado no caco, o amendoim, a castanha de caju, o gole da água da cacimba na caneca de flande, a tábua de pirulito de mel, o quebra-queixo no papel de embrulho, o chá de capim-santo, erva cidreira, a sopa de frango-capado, a galinha caipira, a rapadura, o Chouriço, o doce de gergelim. Tudo isso formava o universo dos sabores da terra contidos nas inesquecíveis viagens de trem pelo nosso Ceará de uma ponta a outra.
Um vai e vem que muito contribuiu para o engrandecimento de toda a região caririense. Do Crato a Fortelaza e de lá até Sobral ... Uma viagem, cuja saudade nem o tempo conseguirá apagar dos nossos sentimentos mais latentes. O trem portanto, é parte importante do nosso passado mais agradável, assim como das nossas reminiscências mais bonitas a tal ponto que as levamos conosco para sempre onde que estejamos.
O trem é toda a nossa memória afetiva, cujo fantasma do esquecimento total não haverá de apagá-la, porque pelo menos em nós, ela será eterna.
Difícil é se entender com qual maldade os nossos políticos, sob o lobismo dos magnatas dos transportes rodoviários e do poder político, em detrimento da maioria do povo, se deram a este ridículo papel de pôr um fim ao trem(cargueiro e de passageiro): símbolo maior do nosso progresso e da nossa história.
Enquanto o mundo avança com o trem, no Brasil se faz o oposto.
Quem me dera Aurora ter o trem de volta!...
Por: José Cícero(blog Aurora/Jc)
Aurora-CE.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Antonio Landim assume temporariamente a Prefeitura de Aurora



Vice-Prefeito de Aurora Antonio Landim(PSC) assume interinamente o cargo de prefeito
Por conta da viagem do titular Adailton Macedo no último dia 10 a Brasília para resolver problemas do interesse do município, o vice Antonio Landim, assume o executivo por um período de 10 a 15 dias.
Na capital da república Adailton Macedo buscará recursos para investimento em obras sociais e outras ações prioritárias na sua comuna. Como por exemplo, a construção de uma Escola Técnica profissionalizante na ordem de pouco mais de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais) que irá atender aproximadamente um universo de mil alunos. Antes o líder aurorense passará por Fortaleza onde manterá audiência com o governador Cid Gomes para tratar da parceria com vistas a criação da Guarda Municipal. Um programa ousado de segurança pública municipal.
A transição de cargo aconteceu na tarde de segunda-feira, 09, na sede da Secretaria de Educação no Bairro São Benedito (Aurora Velha) com a presença de todo o secretariado e assessores administrativos. Na ocasião o gestor Adailton Macedo desejou sucesso ao prefeito provisório Antonio Landim, que por sua vez prometeu administrar o curto período de exercício com austeridade e a mais absoluta responsabilidade. Atributos que já fazem parte da sua índole política.
Antonio Landim falou ainda sobre a Câmara Municipal de Aurora dizendo se tratar de um forte parceiro que muito ajudará no crescimento do município. E por fim, argumentou que essa é na verdade, mais uma experiência de sua vida e que as portas do gabinete continuarão abertas para o atendimento à população. Foram poucas às vezes que um vice ocupara a chefia do executivo em tão pouco espaço de tempo, após o processo de escrutínio da eleição.
Da: Assessoria de Imprensa
Luiz Neto Xetão.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Jornal A NOTÍCIA dedica uma edição inteira ao AuroraFolia-2009

A NOTÍCIA dedica edição completa aos cinco dias/noites do AuroraFolia
Como sendo o maior e mais participativo carnaval da história de Aurora, o AuroraFolia 2009 também empolgou os foliões pelo alto nível da organização e da infraestrutura oferecida, bem como do inovador número de bandas que desfilaram no palco da folia instalado na avenida, como também nas dependências da Associação Beneficente Aurorense(ABA). Mais de 15 bandas animaram os brincantes aurorenses, incluindo o desfile de blocos atrás do trio elétrico.
Sem esquecer o valor da premiação que também esquentou o clima da disputa entre os blocos e a participação da criançada no vesperal de clube. Por outro lado, a segurança também constituiu um ingrediente à parte dos mais elogiáveis. Some-se a tudo isso, a instalação do stand da secretaria de saúde que durante os cinco dias de folia ofereceu serviços de alto nível aos brincantes, tais como preservativos, panfletos informativos, ambulância de plantão com médicos e enfermeiros. Inclusive o fornecimento de banheiros químicos, concurso de blocos e a escolha da rainha e do Rei Momo do AuroraFolia 2009.
“Foi sem sombra de dúvida, uma festa eminentemente popular à altura daquilo que o nosso povo e, sobretudo a nossa juventude precisam e merecem” enfatizou o secretário da pasta de Cultura José Cícero. Já o prefeito Adailton Macedo, disse por sua vez, que o carnaval de Aurora no ano que vem tem tudo para se firmar como um dos mais animados e organizados do Ceará. “Iremos começar a organizá-lo seis meses antes e aumentaremos ainda mais a premiação de ajuda para melhorarmos as estruturas dos blocos participante mas, tudo dentro de rígidos critérios preestabelecidos” explicou o prefeito.
A repercussão foi tanta, que até uma edição inteira do jornal A Notícias foi dedicada aos cinco dias do AuroraFolia. O informativo circulou em todo o município e cidades da região com as principais cenas do carnaval, tanto na avenida quanto na ABA. Várias imagens dos foliões aurorenses estamparam as páginas d’A Notícia. Uma prova irrefutável da dimensão que tomou a festa momina de Aurora. Próximo ano vem aí como mais novidades, sendo que logo logo a cidade viverá o seu Festal-Junino, versão 2009 do Festival de Quadrilhas Juninas. Diversas agremiações juninas já deram início aos trabalhos de ensaio. Quem viver verá... É Aurora fazendo diferente também no seu calendário festivo, cultural e de lazer popular.
Da: Redação do BlogdaAurora
e do JCinforme

domingo, 8 de março de 2009

artigo de opinião: E o Sertão como vai?



Meio dia. Sol a pino. O calor a castigar a natureza das coisas contidas e sobreviventes neste mundão de meu Deus e que a ciência dos homens decidiu por algum motivo chamá-lo pelo nome esquisito de caatinga. Mata branca, mata cinza, mata virgem na língua vocabular dos nossos antigos indígenas. Mata. Floresta baixa. Raio da 'cilibrina'. Linda paisagem quase alienígena para muitos. Uma estranha sensação indescritível que quase enlouquece de prazer ou alucina os verdadeiros alienígenas do além-fronteira que nunca na vida teve a sensação glorificante de se deparar com algo igual a panorâmica da nossa caatinga sertaneja com seus ventos frescos acariciando a nossa cara como se fosse uma declaração de amor pela vida inteira. O nosso sertão é isso, uma multidão de coisas belas postas sempre ao alcance das nossas mãos como dádivas de Deus oferecidas aos homens.
O sertão é sim, este mundo novo, diferente, carregado de belas metáforas e de silêncio contemplativo que a um só tempo, se misturam à tristeza assim como as alegrias de bichos ariscos, homens e plantas, solidão profunda em meio as rebanceiras. Garranchos, espinhos, lajedos, terra batida, cheiro de flor nativa, vôos rasantes de coisas aladas e pensamentos. Cantos de pássaros resistentes preenchendo todo o tempo e os dias do nosso sertão aurorense. Antologia poética escrita pelos deuses do Olimpo espalhada no chão por entre os riachos servindo de inspiração aos repentistas e aos poetas de uma vida cabocla e muito mais brejeira.
Meio dia. O sol está a pino. Em brasa tal qual os tachos quentes dos nossos antigos engenhos de rapadura sempre prontos a adoçar as nossas vidas.
A mata espinhenta nos toca forte à pêle parecendo querer beber nosso sangue com seus acúleos tênues como quem pede água aos céus através de nós. Ou quem sabe, beijando a nossa face deixando em troca, um pouco do perfume presente em cada ramo e em cada flor dispersas nas beiras dos caminhos.
Perfume nativo, saboroso quase afrodisíaco. Coisas do sertão, que só a natureza plástica da caatinga de Aurora e região, consegue evidenciar por meio das suas mais concretas e variáveis cores que como um organismo vivo, pulsa e respira forte assim como os bichos.
A nossa caatinga é vaidosa como a própria donzela sertaneja se enfeitando para os dias de festa. Bastando o roncar do trovão no alto da serra com os primeiros pingados de chuva para que ela se pinte de verde e se renove de carmim e, logo em seguida, todos os seus quadrantes se encham de abundante colorido a nos alegrar de amor e de prazer.
Este é o sertão. Um universo em particular onde o próprio tempo tem preguiça de passar. A vida é morosa e delicada em permanente comunhão com os homens e os bichos do seu chão. O bioma da nossa caatinga sertaneja é um espetáculo eterno encenado a céu aberto pelos anjos de Deus. Um quadro multicolorido, dos mais belos e valiosos pintado de todas as cores através do talento de Monet.
Mas, digamos que o Bioma da nossa caatinga, só existe no semi-árido nordestino. O mundo inteiro tem inveja deste presente dos céus. Sua fauna e sua flora são simplesmente surreais e não possui comparativo em nenhuma outra parte do planeta. Nem nas obras de Dali a caatinga d’Aurora e do Cariri pode encontrar comparativo.
O ambiente sertanejo é uma rara singularidade que a natureza inventou especialmente para nós os nordestinos do Brasil. Mais um grande motivo para que todos os contemporâneos comecem desde já, a se preocupar com as questões relacionadas a sua preservação. Além de se proporem a uma convivência mais racional baseada numa metodologia de sustentabilidade ecológica e humanista.
A sua vegetação assim como o seu relevo, também constituem um colorido à parte. Um palco perfeito para uma sifonia de pássaros. Tudo o mais que a caatinga possui é sui generis. Tudo nela nos convida à meditação num puro estado de espírito. Seja nas secas ou nas invernadas, a caatinga nos toca fundo com a sua paz infinita e a sua mancietude quase paradisíaca.
A caatinga nos toca a alma como quem tenta nos acordar do nosso sono mais profundo, quase letárgico. Mas não digamos por nossa passividade que tudo vai bem. Por que isso não é verdade. O nosso bioma está a correr perigo. Por isso nos pede socorro, como um mendigo a implorar por esmola e piedade, além da compreensão e da consciência dos homens.
O fantasma da extinção já começa a rondar dia e noite as matas do nosso sertão. A destruição por meio das queimadas, da derrubada e da extração ilegal da madeira começam a provocar grandes transtornos para a fauna e a flora do sertão. A poluição dos nossos mananciais, a erosão, a caça predatória e a desertificação são a um só tempo, as grandes mazelas que estão a sufocar intensamente a vida e a tranqüilidade ambiental da caatinga sertaneja. Somos todos responsáveis assim como vítimas em pontecial das agressões secularmente praticadas contra este ecossistema.
Com tristeza, constatamos que a cada dia é cada vez mais difícil se ouvir de novo e com freqüência como era comum no passado, coisas aparentemente simples como o canto do cancão, do galo campina, da juriti. Raro também é ainda hoje, avistar de novo o coloridos do pé de juá, do pau d’arco em flor, o cheiro do oiti, a festa das cores do Ipê, a produção da oiticica, a macunã, o sabiá de laranjeira, o peixe jutubarana, a abelha de canudo, o sanharol, o canto do três potes, o rato canoeiro, o camaleão a mudar de cor, o cágado jabuti, a rã de bananeira, o veado à beira d’água, o gato do mato maracajá, o sanhaço, o mangangá, o besouro rola-bosta, o lobo guará, o sonhim, a rasga mortalha, a coruja, a flor do bugari, a Aroeira, a timbaúba, o pau ferro, a batata de tiú, o cedro,o cipó de balaio, o cajuí, a castanhola, madeira nova, Algarobeira, pé de benjamim, papaconha, a raposa, o maracujá do mato, coco catolé, aveloz, algodão bravo, anum preto e cinza, mel de jandaira, pau ferro, araçá, oliveira, jatobá, cobra verde e de veado, galinha d’água, juriti, vim-vim, cigarra do meio dia, beija-flor de vários tipos, tirana bóia, pé de pequi, andu, mamão da terra, macaúba, pião roxo, borracha de maniçoba, abrir-fecha, bem-te-vi, camarão de água doce, piaba, corró, cari, marreco, casaco fedorento, mergulhão, mussum, rolinha fogo - pagou, angico, camaru, umburana, cordão de são Francisco, vassourinha, mastruz, quebra-pedra, imbu, pé de pitomba, oliveira, cabaça, araticum, jenipapeiro, melão de são Caetano, mané mago, esperança, soldadinho de chumbo, besouro de barro, Maribondo de chapéu, andorinhas lavadeiras, preá, gola preto e grigrilim.
Afinal, quem se arrisca a dizer quantas espécies nós já destruimos para sempre nos nossos sertões? Quantas ainda serão necessárias para que possamos acordar do nosso sono letárgico? Muitas destas espécies jamais poderão ser conhecidas pelos nossos filhos e, tampouco pelas novas gerações do presente e da posteridade.
Será que este é o mundo que queremos deixar para nossos filhos e netos? Penso que não. O que falta mesmo é a tomada de uma nova consciência ecológica, ante a responsabilidade coletiva em defesa da natureza e dos recursos naturais do planeta e da nossa caatinga.
Viva para sempre o sertão. Viva a caatinga da nossa Aurora , do Cariri e do Nordeste brasileiro.
Por: José Cícero
Aurora - Ceará.

Artigo: MULHER - Sinônimo divino de vida, lutas e conquistas

As grandes transformações vivenciadas pelo mundo contemporâneo há muito constituem um imenso legado de luta, parte dele edificado a ‘sangue e fogo’ pelo gênero feminino nos mais diversos rincões do planeta. Todavia, a quebra dos velhos paradigmas com que antes a sociedade machista tentava justificar a posição supostamente subalterna da mulher, como um ente de segundo plano, coloca hoje em xeque uma outra visão de caráter puramente discriminatório. Quer seja, o ‘reconhecimento’ como que tardio, por parte dos formadores de opinião, por exemplo, de que é preciso promover novas aberturas para a atuação das mulheres no seu contexto social e político, bem como em todas as demais correlações de forças.
Ora, as mulheres já têm demonstrado serem por si só, capazes o suficiente de dar prosseguimento a sua ascendência histórica de conquistas, através dos seus próprios méritos. Basta apenas agora que a sociedade machista compreenda de uma vez por todas, que a questão de gênero neste país precisa sim, ser tratada num outro patamar de equilíbrio; ou seja, o da igualdade de condições e de direitos como versa a lei. Por ser um dos esteios fundamentais para a verdadeira democracia cidadã a que todos almejamos edificar coletivamente.
Portanto, sem os antigos ranços de preconceitos e outras pieguices discriminatórias mastodônicas que infelizmente, ainda ‘infestam’ o cotidiano interminável de lutas e conquistas das bravas mulheres em todos os recantos do planeta e, especialmente as brasileiras.
São deveras inegáveis as conquistas já empreendidas pelas mulheres que num esforço hercúleo têm trilhado uma trajetória de luta na busca incessante dos seus direitos à liberdade e a uma convivência cada vez mais harmoniosa de paz e justiça social entre os homens. A presença feminina é por tudo isso hoje, uma constante em todos os estratos do nosso dia-a-dia emancipacionista, com expressivo respaldo nos mais diferentes ramos das nossas atividades, tanto profissionais, quanto sócio-políticas e culturais.
Para usarmos um dos elementares conceitos Nietzschiano, a mulher não precisa de “nenhum tipo de piedade”, mas sim do reconhecimento verdadeiro, sobretudo pela sua coragem e disposição para lutar contra as mais variadas formas de opressão; construindo assim um caminho de efetivas conquistas na construção da sua própria história. A piedade pura e simples, além de contraproducente é mais uma modalidade de preconceito implícito e que por isso mesmo precisa ser abolida de forma definitiva do nosso meio. Muito mais que isso, a mulher só precisa de um pouco mais de respeito e compreensão numa perspectiva de valorização do importante papel que ao longo do tempo vem desempenhado no processo construtivo da nossa sociedade.
A mulher – a célula mater do mundo e da própria vida – há muito é sinônimo de poesia, sendo por isso mesmo decantada por quase todos os grandes vates da literatura universal. Não obstante tudo isso, é nossa partícipe essencial na árdua e cansativa batalha com que cada dia nos doamos à transformação de um mundo mais humano, fraterno e digno para todos. O mundo ulterior que haveremos todos de deixar como um legado aos nossos filhos e a posteridade de uma forma geral.
Parabéns a todas às mulheres do Brasil, do Cariri e do mundo! Pela passagem deste dia tão singular que, na proporção das suas lutas, haverá certamente de assumir o exato valor e a dimensão não apenas de uma vida, mas de uma história inteira.
Por: José Cícero
Da: redação da Revistata Aurora

sábado, 7 de março de 2009

artigo: Patativa do Assaré, 100 anos de Nascimento e Poesia

Se vivo estivesse, o nosso Patativa - poeta maior das plagas caririenses estaria completando Cem anos de nascimento( 05 de março de 1909). Uma data redonda que muito representa para uma figura humana que mais do que um artista exemplar, também o foi na vida, um poeta que carregava no canto, na palavra e no sangue todo o orgulho de ser considerado o mais autêntico caboclo dos sertões nordestinos, das bibocas do Ceará.
Foi por tudo isso e muito mais, um poeta na mais exata extensão da palavra. Ao passo que viveu a poesia como quem vivenciava o seu próprio cotidiano de suor, inspiração e lágrimas. O poema ia sempre ao seu encontro onde quer que o estivesse, principalmente no campo durante a faina do seu ofício de agricultor roceiro. De modo que toda a sua vida já era um poema na sua forma mais perfeita.
Lembro com saudade de quando estudante secundarista tive o meu primeiro e único encontro com Patativa. Foi uma alegria vê-lo de perto no momento em que se preparava para subir a carroceria do caminhão Ford onde recitaria em praça pública uma infinidade de seus poemas favoritos. Cada um mais longo do que o outro. E o fazia de cor como um gravador. Tinha uma mente deveras prodigiosa o mestre patativa.
Idos de 1983 nas célebres e saudosas semanas universitárias que aconteciam nos meses de julho em Missão Velha. Férias escolares prenhe de lazer, futebol e entretenimento dos mais sadios. O poeta tinha sido convidado pela Associação Universitária. Era uma noite festiva e o vate do Assaré parecia não se conter de ânimo por está ali no meio do povo.
Após recitar seus poemas também se deu ao trabalho de construir alguns de improviso onde exaltava o movimento estudantil e a sociedade missãovelhense. No final foi ovacionado. Como era bom sentir o Patativa alegre como um menino no meio do povo. Recordo com carinho que no final Patativa se recusou terminantemente a receber o pagamento pela sua apresentação mesmo vindo de tão longe àquela hora. “Se querem pagar alguma coisa, paguem para quem me trouxe até aqui, o motorista”, disse o poeta com um sorriso maroto e aquela sua voz arrastada. E depois completou: “ora, quem já se viu se cobrar alguma coisa de estudante? Vocês não me devem nada...” Era além de poeta fino, um homem diferenciado para quem o poder e o dinheiro nunca o seduzira. Tempos depois, o acompanhava todos os domingos quando cedinho ele se apresentava num programa na rádio Vale do Cariri AM de Juazeiro do Norte. O poeta se deslocava do seu Assaré para o Crato e de lá ia para o Juazeiro nos coletivos da viação Brasília para apresentar o seu programa dominical.
Noutra vez o vi passando de relance num carro de feira, quando já estudante da Escola Agrícola na serra do Crato e estando eu a frente da escola à margem do asfalto da estrada de acesso à Assaré, de repente um dos colegas gritou: - olha lá o Patativa e eu emendei num sem pulo, exclamando: - Patativa, Patativa! Ele replicou com um aceno da mão e o meneio da cabeça sombreada pelo chapéu. Foi-me a última vez que avistei o poeta de carne e osso. Depois só tive notícias com tristeza das sua doenças...
Com o seu talento e simplicidade conseguiu ir além das fronteiras do Brasil. Sinal de que era bom mesmo, pois todo grande poeta vai sempre além de qualquer fronteira geográfica.
Dono de uma lavra inconfundível Patativa foi um homem que também esteve além do seu tempo. Do seu jeito muito particular e brejeiro soube como ninguém cantar o sertão e o seu povo sofrido de uma maneira mais que especial, ou seja, sendo um deles.
De tal modo que sempre punha o coração na frente de tudo o mais que fazia em defesa da poesia e dos seus irmãos sertanejos.
Falou das agruras e fez versos de dor e sofrimento com a genialidade própria dos grandes mestres acadêmicos e dos doutores. Expressou sua rebeldia ao criticar o Brasil de cima e o Brasil de baixo, da política de exclusão, da exploração da miséria e da esmola como moeda eleitoreira para o Nordeste. Com o seu brado também criticara a ditadura e o latifúndio. Foi sempre a favor da reforma agrária e a liberdade, como garantias para a verdadeira cidadania democrática. Foi laureado pelos salões da burguesia e do poder, porém nunca se deixou seduzir por eles. Ao ponto também de nunca sequer exigir direito ou qualquer pagamento dos que inclusive, ganharam dinheiro e até fama com as suas composições musicais.
Agora, no momento em que se comemora o seu 1º centenário de nascimento abraço o sentimento de saudade com a convicção plena de que o poeta Patativa não morrera nunca. Porque nenhuma morte consegue atingir os poetas. Posto que todo poeta verdadeiro é eterno e imortal, dado que encerra na sua verve construtiva todas as grandes utopias da sua gente. De modo que, diremos apenas que o velho Patativa, ou se encantou por alguns instantes ou se retirou do meio de nós, apenas para tomar uma canequinha d’água dormida do pote de barro. E, para logo em seguida, fumar seu cigarrinho de palha de milho num intervalo de ponderação poética e metafísica sobre a vida e os intereses dos homens.
Por fim, Patativa viverá para sempre na sua poesia que nunca morre, simplesmente porque ela se encontra enraizada definitivamente no imaginário popular de todas as gentes caririenses e nordestinas.
Por: José Cícero
Professor, Poeta e Escritor.
Secretario de Cultura, Turismo e Desporto.
Aurora-CE.

EducAÇÃO, a melhor maneira de se mudar o mundo

Difícil pensar numa educação realmente de qualidade quando não existe um interesse efetivo de valorização dos seus professores. Mais que os discursos fantasiosos, valem os exemplos. Não é possível qualquer mudança educacional sem tocar a crise financeira fundante e de paradigmas por que passa o professorado brasileiro(e cearense) de um modo geral.
Nos últimos tempos, a questão da educação formal no Brasil vem apresentando resultados alarmantes. De modo que falta pouco para virar de vez um problema de segurança nacional ou quem sabe, até, de calamidade pública. Pois a educação é a chave para o progresso de qualquer nação. Os baixos índices de aproveitamento da nossa aprendizagem chamam a atenção da própria Unesco e outros organismos internacionais em face da grandeza da nossa geografia, densidade populacional e do próprio aporte financeiro que ora vem sendo empregado no sistema. Os resultados pífios assustam e preocupam. E deveriam ser outros muito superiores aos conseguidos por pequenos países pelo mundo afora. No entanto, antigos problemas como a evasão, repetência, baixos índices cognitivos e até mesmo de comportamento, atenção e disciplina, sem esquecer a violência comprometem seriamente a aprendizagem em suas mais diversas variáveis.
Num comparativo com nossos vizinhos sul-americanos estamos andando a passos de tartarugas e, com o resto do mundo, estamos muito aquém até mesmo de alguns países africanos onde o PIB não pode ser aquilatado com o nosso, dada a sua pequenez valorizativa. Daqui a pouco o Brasil terá que concorrer consigo mesmo, visto que piora a cada novo levantamento de dados. Culpa dos seus professores? Nem tanto. Os nossos mestres são também ainda hoje, vítimas do próprio sistema sócio-político-educacional que herdaram do passado.
Tudo isso é preocupante, principalmente para uma nação que se diz está preparada para ocupar uma posição geopolítica de destaque na América Latina. Assim como na saúde, ainda não está de todo resolvida a proposta do estado mínimo(neoliberalismo) e/ou da própria economia de mercado como instâncias do capitalismo; as velhas alternativas paliativas criadas para a atual problemática vivenciada pela educação brasileira. A idéia da mercantilização do ensino também não parece servir as grandes demandas sociais da nossa aprendizagem, dentre outras razões, pelo alto custo das mensalidades que vêm sendo cobradas. E a sociedade na sua maioria pobre não possui poder aquisitivo suficiente para tanto.
Afinal de contas, a preocupação primeira dos que fazem a educação como um negócio é o lucro. Todo o resto é secundário. Ora, mas a educação gratuita e universal é ou não é um dever do Estado e um direito dos cidadãos? Portanto, o ensino público precisa ser visto como uma intervenção de caráter estratégico e não como uma caridade que o Estado realiza em favor dos mais pobres ou remediados. Uma pena constatar que até mesmo uma parte considerável dos professores da rede pública de ensino prefira matricular seus filhos no ensino particular.
A sintomatologia do problema nos mostra por fim as grandes razões desta questão. A saber: baixos salários o que obriga os nossos mestres se dá ao excesso da sua carga horária, não lhes sobrando tempo disponível para o estudo, a pesquisa e a capacitação. Enfim, o investimento em si mesmo. Ainda, a preparação de boas aulas, descanso necessário, tempo para a família e uma dedicação mais prazerosa ao seu ofício de educar, bem como a falta de maiores incentivos salariais também compromete a disposição de muitos para ingressarem nesta profissão que noutros países, corresponde a um ofício de excelência onde sempre pontificam os melhores, os notáveis, os construtores de futuro e da história dos povos. Aqui no Brasil, com raras exceções, o exercício da cátedra está num processo de desvalorização acelerado, nunca vista em sua história. Muitos (talvez por isso) a tem como um mero complemento salarial um “bico” como se diz aqui Cariri. Sobreviver da profissão, portanto é um ato digno apenas dos grandes heróis. Tudo isso precisa ser revisto urgentemente para o bem do Brasil na sua perspectiva mais futurista possível. Como iremos atrair os melhores para a profissão sem a devida valorização. Por outro lado, a motivação é algo igualmente fundamental para o processo de ensino-aprendizagem. E isso vale, tanto para quem aprende, quanto para quem se dispõe a ensinar. Agora, digamos que não é nada gratificante para quem a faz no dia a dia, a sua atual banalização desenfreada. A propósito, por que será que o exercício ilegal da profissão não vale também para o exercício do magistério? Por que qualquer um pode adentrar a sala de aula e lecionar? Será que o professor também poderá clinicar; exercer, por exemplo, o ofício da veterinária, da enfermagem, da medicina em geral, da agronomia, da engenharia civil, etc.
A valorização da profissão de professor também precisa necessariamente reavaliar todas estas minúcias, como questões imperativas para a implantação de uma política educacional de fato diferente, evoluída, democrática, justa e de qualidade para todos: educandos e educadores. Não se pode esquecer que são justamente os professores quem formam todos os outros profissionais da nossa sociedade.
Uma série de contradições hoje se imiscui com todo o processo educacional brasileiro. No Ceará onde estas preocupações são muito mais gritantes, não é lá muito diferente. Temos uma estrutura quase antiga, praticamente sustentada por uma leva de professores tidos como “temporários”, a maioria com mais de cinco anos no ‘batente’ sob o regime de contratos temporários. Uma realidade “cômoda” para os Governos, mas nem tanto para o sistema e, tampouco para os próprios profissionais da área que anualmente são submetidos a uma carga psicológica e estressante ante a reavaliação seletiva(nem tanto seletiva assim), mas que se torna cansativa, penosa e quase humilhante para estes trabalhadores do saber. Depois vêm os baixos salários, para piorar diferenciados dos que são efetivos. Portanto, sem as necessárias garantias de muitos direitos inerentes a categoria mesmo tendo os mesmo encargos sociais, descontos e tudo mais.
Para se ter uma idéia do nível de contradição, basta dizer que todo início de ano letivo o primeiro pagamento só é providenciado no mês de abril e ainda, sem a devida integralidade do mês de janeiro. Seja pela burocracia ou pela falta de prioridade mesmo para com os temporários que hoje são os responsáveis pelo funcionamento da máquina escolar do estado, o tratamento conferido a estes bravos profissionais não corresponde a um ato de justiça, em face da dedicação com que todos devotam à formação educacional da sociedade cearense. Além do mais, mesmo sendo uma categoria numerosa não têm poder reivindicatório, uma vez que sendo “contratados temporariamente” temem as possíveis retaliações e até a perda do emprego. Por isso se faz necessário a instituição de um concurso público que possa contemplar de uma vez por todas as reais carências que o estado apresenta. E não apenas um fragmento delas.
A escolha dos novos diretores que ainda se arrasta desde o ano passado, também demonstra algo não muito interessante pelo menos desta feita, malgrado o seu viés democrático absolutamente necessário. Então, como entender um processo que visa substituir um quadro de diretores já completamente familiarizado, compenetrado e treinado com o gerenciamento administrativo, financeiro e pedagógico de uma escola; por outros que no mínimo, vão ter que gastar um certo tempo para compreender toda esta engrenagem? E se caso for alguém de outro município, que sequer conhece nossa realidade e a comunidade usuária da escola? São coisas deste tipo que às vezes nem Freud explica.
Mas, em educação tudo é possível, até mesmo a possibilidade de um eterno recomeço. Acreditar também para os educadores pode ser uma grande e salutar virtude. Quiçá um aprendizado. Não sei se isso valerá também para a sociedade que tem sede de justiça e pressa de grandes realizações sociais.
Por: José Cícero
Professor, Escritor e Poeta.
Aurora - CE.