quinta-feira, 26 de março de 2009

artigo: Afinal quem foi Che Guevara?



Por.Fernando Sousa, do jornal o Público
Vamos continuar a não saber quem foi Che, mesmo depois de "O Argentino" e "Guerrilha", filmes de Soderbergh. Os mitos não se deixam tocar.E pronto, aí vem o "Che" e a coincidir com os 50 anos da Revolução Cubana, de que o guerrilheiro argentino, tornado cubano, tornado do mundo, tornado dos gadgets e das T-shirts, foi um dos autores. É um filme para ressuscitar um tema recorrente: afinal quem foi ele? Vamos continuar a não saber, talvez por ser da natureza dos mitos não se deixarem tocar. O filme chega sem trunfos na manga e com humildade. Numa entrevista à rádio espanhola SER, quando o díptico - "Che: O Argentino" e "Guerrilha" - se espalhou por quase quatro centenas de salas de cinema do país, o homem que deu corpo e densidade ao herói, Benicio del Toro, disse que todos deram o máximo por um trabalho desprendido. "Ninguém conhecia muito o 'Che' ou a história de Cuba e durante a pesquisa aprendemos muito; não queríamos inventar nada. É impossível fazer um filme sobre 'Che'; mas nós tentamos."
A primeira parte cobre o período de 1955 a 1959 e começa com um mergulho nos tempos da clandestinidade na Cidade do México. É a casa de Maria Antónia, os encontros à sucapa da polícia, a procura de um barco para desembarcar em Cuba, o campo de tiro de Los Gamitos, as traições, a compra do Granma - sabe-se lá porque é que um tal Robert Eliksson, o seu proprietário, lhe chamou assim - que levaria 82 homens. Fidel (no filme, o mexicano Demián Bichir) já tem todos os trejeitos e a vertigem dos discursos que o acompanharão o resto da vida. O jovem médico argentino já diz "che" por tudo e por nada. São cenas com poucos pormenores, mas Soderbergh explicou também várias vezes que nunca quis fazer um documentário. O resto é a viagem, o desembarque, o caminho para Alegría de Pío, a guerra nos pântanos e na florestas, debaixo do ronco dos "Biber", os aviões Beaver da ditadura, a abrir caminho para a Sierra Maestra, os primeiros mortos da coluna, a formação da guerrilha que fará Fulgencio Batista fugir e tomar Santa Clara, e Ernesto "Che" Guevara nas Nações Unidas, em 1964, a explicar a pureza da revolução cubana, todo o trajecto do Movimento 26 de Julho, desde o assalto a Moncada. Agrada a sobriedade das paisagens, o ritmo pausado, ainda que constante, sem altos e baixos do argumento. Gosta-se da ausência de sensacionalismos, preenchida com a onipresença de Benicio del Toro, que passará para a segunda parte tão forte como desde o primeiro momento em casa de Antonia.
Adere-se, quase por osmose, por via do espantoso ator porto-riquenho, ao homem que já era lenda antes de se saber dele na Bolívia e que a morte, em La Higuera, só tornou uma história maior. Mas fica-se com a sensação de que só se falou no guerrilheiro, e mesmo assim só de alguns momentos. A asma, as mulheres, os fuzilamentos... Em nenhum momento do filme aparece, por exemplo, a explicação da asma - a pieira, o suplício do guerrilheiro, que enche a sala e nos obriga sem querermos a encher os pulmões. Nada se diz sobre as mulheres da vida dele. Como não se fala de um simulacro de fuzilamento que aplicou a três dos seus homens ou das condenações à morte.
fotos: internet

Um comentário:

Unknown disse...

Penso que o Che foi um grande revolucionário, um grande utopista, o representante maior contra a política burguesa, excludente, de uma capitalismo selvagem, opressor que já da sinais de queda.
Che foi um sonho que deveria existir eternamente como um referencial do poder da rebeldia juvenil, pena que haja uma orquestração bem articulada para manchar o nome de um herói de um idealismo, quando a juventude era engajada na política sem dizer eternamente amém, amém, amém{...}