sábado, 7 de março de 2009

artigo: Patativa do Assaré, 100 anos de Nascimento e Poesia

Se vivo estivesse, o nosso Patativa - poeta maior das plagas caririenses estaria completando Cem anos de nascimento( 05 de março de 1909). Uma data redonda que muito representa para uma figura humana que mais do que um artista exemplar, também o foi na vida, um poeta que carregava no canto, na palavra e no sangue todo o orgulho de ser considerado o mais autêntico caboclo dos sertões nordestinos, das bibocas do Ceará.
Foi por tudo isso e muito mais, um poeta na mais exata extensão da palavra. Ao passo que viveu a poesia como quem vivenciava o seu próprio cotidiano de suor, inspiração e lágrimas. O poema ia sempre ao seu encontro onde quer que o estivesse, principalmente no campo durante a faina do seu ofício de agricultor roceiro. De modo que toda a sua vida já era um poema na sua forma mais perfeita.
Lembro com saudade de quando estudante secundarista tive o meu primeiro e único encontro com Patativa. Foi uma alegria vê-lo de perto no momento em que se preparava para subir a carroceria do caminhão Ford onde recitaria em praça pública uma infinidade de seus poemas favoritos. Cada um mais longo do que o outro. E o fazia de cor como um gravador. Tinha uma mente deveras prodigiosa o mestre patativa.
Idos de 1983 nas célebres e saudosas semanas universitárias que aconteciam nos meses de julho em Missão Velha. Férias escolares prenhe de lazer, futebol e entretenimento dos mais sadios. O poeta tinha sido convidado pela Associação Universitária. Era uma noite festiva e o vate do Assaré parecia não se conter de ânimo por está ali no meio do povo.
Após recitar seus poemas também se deu ao trabalho de construir alguns de improviso onde exaltava o movimento estudantil e a sociedade missãovelhense. No final foi ovacionado. Como era bom sentir o Patativa alegre como um menino no meio do povo. Recordo com carinho que no final Patativa se recusou terminantemente a receber o pagamento pela sua apresentação mesmo vindo de tão longe àquela hora. “Se querem pagar alguma coisa, paguem para quem me trouxe até aqui, o motorista”, disse o poeta com um sorriso maroto e aquela sua voz arrastada. E depois completou: “ora, quem já se viu se cobrar alguma coisa de estudante? Vocês não me devem nada...” Era além de poeta fino, um homem diferenciado para quem o poder e o dinheiro nunca o seduzira. Tempos depois, o acompanhava todos os domingos quando cedinho ele se apresentava num programa na rádio Vale do Cariri AM de Juazeiro do Norte. O poeta se deslocava do seu Assaré para o Crato e de lá ia para o Juazeiro nos coletivos da viação Brasília para apresentar o seu programa dominical.
Noutra vez o vi passando de relance num carro de feira, quando já estudante da Escola Agrícola na serra do Crato e estando eu a frente da escola à margem do asfalto da estrada de acesso à Assaré, de repente um dos colegas gritou: - olha lá o Patativa e eu emendei num sem pulo, exclamando: - Patativa, Patativa! Ele replicou com um aceno da mão e o meneio da cabeça sombreada pelo chapéu. Foi-me a última vez que avistei o poeta de carne e osso. Depois só tive notícias com tristeza das sua doenças...
Com o seu talento e simplicidade conseguiu ir além das fronteiras do Brasil. Sinal de que era bom mesmo, pois todo grande poeta vai sempre além de qualquer fronteira geográfica.
Dono de uma lavra inconfundível Patativa foi um homem que também esteve além do seu tempo. Do seu jeito muito particular e brejeiro soube como ninguém cantar o sertão e o seu povo sofrido de uma maneira mais que especial, ou seja, sendo um deles.
De tal modo que sempre punha o coração na frente de tudo o mais que fazia em defesa da poesia e dos seus irmãos sertanejos.
Falou das agruras e fez versos de dor e sofrimento com a genialidade própria dos grandes mestres acadêmicos e dos doutores. Expressou sua rebeldia ao criticar o Brasil de cima e o Brasil de baixo, da política de exclusão, da exploração da miséria e da esmola como moeda eleitoreira para o Nordeste. Com o seu brado também criticara a ditadura e o latifúndio. Foi sempre a favor da reforma agrária e a liberdade, como garantias para a verdadeira cidadania democrática. Foi laureado pelos salões da burguesia e do poder, porém nunca se deixou seduzir por eles. Ao ponto também de nunca sequer exigir direito ou qualquer pagamento dos que inclusive, ganharam dinheiro e até fama com as suas composições musicais.
Agora, no momento em que se comemora o seu 1º centenário de nascimento abraço o sentimento de saudade com a convicção plena de que o poeta Patativa não morrera nunca. Porque nenhuma morte consegue atingir os poetas. Posto que todo poeta verdadeiro é eterno e imortal, dado que encerra na sua verve construtiva todas as grandes utopias da sua gente. De modo que, diremos apenas que o velho Patativa, ou se encantou por alguns instantes ou se retirou do meio de nós, apenas para tomar uma canequinha d’água dormida do pote de barro. E, para logo em seguida, fumar seu cigarrinho de palha de milho num intervalo de ponderação poética e metafísica sobre a vida e os intereses dos homens.
Por fim, Patativa viverá para sempre na sua poesia que nunca morre, simplesmente porque ela se encontra enraizada definitivamente no imaginário popular de todas as gentes caririenses e nordestinas.
Por: José Cícero
Professor, Poeta e Escritor.
Secretario de Cultura, Turismo e Desporto.
Aurora-CE.

Um comentário:

Unknown disse...

O suposto Blog contempla verdadeiramente a Poesia Popular, por está divulgando em artigo, o centenário do Poeta Patativa do Assaré, um ícone cultural tão significativo, como a Própria poesia vista como um dom divinal, atribuído aos poetas pelo Arquiteto do Universo, Jesus Cristo. O Blog está de parabéns e Patativa com certeza ficará sempre gravado na mente inteligente, que pensa, produz e contribui intelctualmente com a cultura popular.