sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Triste e Feliz por Vargas Llosa*

Por José Cícero
Não sei ainda se acaso me alegro ou se me entristeço diante da auspiciosa notícia acerca da conquista do Nobel de literatura 2010 pelo escritor Mario Vargas Llosa. Alegria pelo fato de ser ele do Peru, nosso vizinho sul-americano de lutas, agruras e sofrimento.
Ainda, por também ser ele um escritor comprometido com o eterno sonho coletivo da conquista e construção de um mundo novo.
Um engenheiro da linguagem que fez da sua lavra cotidiana não somente palavras soltas ao vento, porém um instrumento de transformação da consciência dos homens e das mulheres do planeta.
Um escritor de fato engajado. Um político audaz na expressão mais lídima do termo que fez da sua pena um binóculo por meio do qual, todos os oprimidos da América puderam efetivamente enxergar novos caminhos e, assim acreditar na perspectivas de novos horizontes.
Maria Vargas Llosa - Um bravo literato que se fez gigante sem, no entanto desprezar seus irmãos pequenos; nunca tendo que rastejar entre os poderosos do império. Um escritor ousado de posições afirmativas. Um poeta lúcido em pleno domínio da língua do seu povo. Que fez o tempo todo da sua escrita um farol a iluminar os caminhos dos pequenos.
Um intelectual que nunca se rendeu a qualquer modismo midiático para vender seus livros. Verdadeiro escriba contemporâneo, pacientemente recolhido no seu canto americano, mas com uma visão de mundo capaz de transportar a si próprio e seus leitores ao mais longínquo do pensamento humano.
Um escritor grandiloquente de sonhos, utopias e realidades distantes, porém possíveis. Um guerreiro da palavra que conseguiu um dia mostrar para o mundo as veias abertas junto à miséria de uma América Latina aos trapos e do terceiro mundo submisso.
Um artista do vocábulo estético, cuja escrita desconhece fronteira para aproximar o gênero humano.
Vargas Llosa - Um homem que conseguiu fazer da sua literatura um eterno ‘derrubar’ de preconceitos, mentiras, ignorâncias e ditaduras.
Tudo isso me alegra neste peruano intelectual, agora pelo prêmio e reconhecimento a obra valorosa que no seu conteúdo genérico contêm muito de nós. Ainda, por que sei que não é fácil convencer os donos do império a voltar seus olhos para este lado do hemisfério.
Um prêmio que no fundo deve ser comemorado por aproximar dois mundos literários há muito separados pela indiferença dos poderosos exploradores a despeito de tudo aquilo que a América Latina possui de mais grandioso, quer seja, o talento artístico, a resistência e a história de luta do seu povo.
De modo que o Nobel de Llosa, o peruano, tem que ser também comemorado por nós, os amantes da literatura latino-americana, porque haverá de ser ela, um derivativo muito forte da brasileira.
Triste, porque ainda não tivemos o prazer de ganhar o nosso prêmio. Com efeito, quanto podíamos não conseguimos. E agora com os poucos temerários talentos literários que possuímos, a conquista do Nobel de literatura fica cada vez mais difícil.
O sonho do Nobel de literatura para o Brasil aos poucos se transforma numa utopia. Não diria impossível, posto que depois de Garcia, Saramago e Llosa quem sabe o Brasil e a língua portuguesa possa ter, igualmente, seu momento escrito no panteon da glória da literatura mundial.
Contudo, enquanto a mídia-marrom brasileira sob o comando da indústria do livro continuar só tendo olhos para o lucro, fabricando best-sellers sem substâncias literárias do tipo Paulo Coelho e tantos outros; pensar no Nobel será tão somente meras especulações.
(*) José Cícero
Secretário de Cultura
Aurora - CE.
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