quinta-feira, 31 de julho de 2014

PIRANHAS: Cangaceiros e volantes, uma disputa que não faz mais sentido - Por José Cícero

Passados 76 anos da morte de Virgulino Ferreira da Silva - Lampião, tido como  o rei do cangaço, ainda  é possível notar aqui acolá,  nuances e resquícios da velha peleja, agora no campo das ideias entre os que defendem as volantes e os que glorificam os cangaceiros.
Em que pese  todos os esforços em se estudar com a devida isenção o fenômeno do cangaço, o dualismo ainda permanece vivo e exacerbado. Contudo, é preciso não perder o foco. Principalmente a real noção do papel sociológico, político e cultural do cangaço na construção da história recente do povo dos sertões.  
É como se ainda houvesse, respingos de pólvora, lágrimas, suor e sangue nas reflexões que ora se seguem em torno deste verdadeiro drama humano ocorrido desde meados do século XIX nos grotões do Nordeste. O que com Lampião, durara por mais de duas décadas, até o assassinado do cangaceiro Corisco - o diabo loiro. 
Uma mistura realmente estranha e explosiva carregada por si mesma de ufanismo, ressentimentos, romantismo e adoração. Além de uma dose excessiva  de  incompreensões, parcialidades e preconceitos.  Ingredientes que não contribuem em quase nada para a formulação de um debate franco e qualificado em torno de um tema dos mais palpitantes e polêmicos da história do Brasil.
Não faço objeção pura e simples à chamada formação do mito, quer seja como paixão ou ódio em torno da figura controversa de Virgulino - o Lampião. Isso porque, o que de fato me interessa é o homem histórico em sua contextualização temporal.  Tendo como pano de fundo, as suas relações de causa e feito com o ambiente político e  social da época. Malgrado o mito do herói ou do bandido ainda a motivar, tanto paixões quanto ódios. 
Mais tudo isso são aspectos  inerentes à própria história da humanidade. Algo ainda muito presente no imaginário coletivo das populações. No fundo, diria que, o que mais me interessa realmente é estar  atento e vigilante no sentido de nunca me permitir perder de vista a noção da verdade histórica por mais doída que ela seja. Não me deixar levar pelo achismo absoluto daqueles que de pesquisadores só têm o nome. 
A ponto de puder perceber todo o artificialismo das construções enviesadas, no mais das vezes puramente literárias ou academicistas que no geral, são edificadas não pelos sertanejos, porém pela pena refrigerada dos alienígenas de plantão, distantes demais do palco do acontecimentos. Os descompromissados com a realidade dos fatos. E que não têm sequer a mínima noção do que venha ser um mandacaru espinhento, uma jurema braba e, tampouco, ainda hoje, a dura, sofrida e dramática realidade vivida pelas gentes dos sertões. 
Tenho, por tudo isso, imensas dificuldades em acreditar no que dizem e escrevem os escritores de bancadas, como igualmente nos que mantêm seus espíritos ainda armados para a batalha. Como ainda, nos escribas laureados dos gabinetes sempre prontos para qualquer shownalismo midiático.
Em favor da história, diria que é imperioso apurar ainda mais nosso olhar, liberto de quaisquer amarras do passado buscando encontrar a verdade com imparcialidade e isenção. Uma tarefa não somente dos pesquisadores, mas de todos quantos se derem a tarefa de ler, refletir e escrever sobre esta temática. 
Não foi diferente o aconteceu durante os debates da II Semana do Cangaço ocorrida estes dias na cidade histórica de Piranhas em Alagoas. Confesso que não gostei do "tom da viola' que de certa maneira ritmou a maioria das discussões plenárias. Quer seja, satanizando Lampíão e os cangaceiros. E de certo modo, endeusando nas entrelinhas as volantes, além de eximir o sistema,  coiteiros  e os coronéis da política e latifúndio que emolduraram com rastros de violência a saga do cangaço. 
Houve até quem não gostasse, por exemplo, quando se disse que tanto volante quanto cangaceiros foram "farinhas do mesmo Saco" ou estavam no mesmo balaio. O que eu concordo acrescentando apenas, que os cangaceiros não eram pagos com recursos do Estado. 
Houve quem afirmasse na bancada que os volantes eram vocacionados, tinham uma missão a cumprir, não agiam por vingança; sendo regidos por um código de ética, diferentemente dos cangaceiros. Há controversas. Porém em partes, também concordo, ou seja, com as devidas e necessária retificações. 
Senão vejamos: Então, porque  jagunços e cangaceiros às vezes se transformavam em volantes ou vice-versa? Quantas violências horríveis foram praticadas e postas na cota de Lampião em nome da lei? Havia alguma ética ou ausência de violência na decapitação das cabeças em Angico, bem como nas inomináveis barbaridades cometidas pelo sertão adentro? 
E há até  quem diga, que quando cortaram a cabeça de Maria Bonita, ela ainda estava viva. E o dinheiro, os pertences, tanto do bando de Lampião quanto de Corisco (anos depois), com quem ficaram? Onde estava a ética? Fora também massacrada? E os bravos e  famosos nazarenos não agiam também  por sentimentos de vingança?
Em Piranhas disseram também que o que aconteceu na grota de Angico em 1938 quando Lampião e seu bando foram praticamente exterminados não constituiu um massacre e sim, um combate. Difícil acreditar na tese do combate quando se sabe que do lado das volantes  apenas o soldado Adrião foi morto e ainda por cima, com fortes suspeitas de ter sido fogo amigo. 
Ora é mister que se diga, que nem nos confrontos que se sucederam ao malogro de Mossoró em 1927  quando Lampião estava em franca desvantagem ante as tropas de três estados no seu encalço;  como o da Serra da Macambira nas proximidades de Limoeiro do Norte, do sítio Ribeiro e no cerca da Ipueiras em Aurora ambos no Ceará. Lampião não fora pego assim tão fácil com se deu em 38.
De modo que, se em Angico o que houve foi um combate. O que dizer em relação ao que fizeram as volantes estaduais também 27 na fazenda Guaribas de Chico Chicote?  Massacre, como se diz, 'é café pequeno',  o que houve foi uma barbárie. Um crime hediondo e inenarrável.
Como se percebe, assim como nas guerras, também no cangaço a verdade foi uma das suas principais vítimas. Dizer portanto, que cangaceiros e volantes se igualaram  nas atrocidades que cometeram contra o povo sertanejo, está de bom tamanho.
Por fim, penso que todos os que  vivenciaram e conseguiram a duras penas sobreviver  ao flagelo do cangaço foram igualmente vítimas em potenciais.   Qualquer outra explicação que queira destoar muito deste fato, creio que não passa de uma tentativa em vão de se querer "vender gato por lebre".
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José Cícero
Pesquisador e conselheiro do Cariri Cangaço
Aurora - CE.
fotos CC


sábado, 5 de julho de 2014

Seleção Brasileira > Estorinha para destoar um pouco daquela que nos inventaram, ou seja, 'para Boi Dormir'*

Sem fanatismo algum torço para o Brasil na tal Copa da empresa Fifa (com o devido perdão da palavra)... E nem sei ao certo se este meu sentimento é por puro patriotismo como dizem por aí os donos da verdade via TV Globo(perdão novamente), ou pelo fato de que; malgrado o esquema de corrupção empresarial em que se transformara o futebol, confesso que ainda gosto de acompanhar(vez por outra) uma boa partida do futebol-arte(sempre que possível). Posto que, futebol bom como nos velhos tempo, não há em canto algum( a não ser na lábia da TV).
Atualmente o bom futebol(sic) só acontece mesmo para os empresários, os cartolas e os jogadores. Enquanto para o povo só resta mesmo pagar a contas do espetáculo como muito suor, paciência, adoração e sacrifício.
Ora e a mídia? >
Mas a força da mídia(como se ver) tem hoje quase o poder de Deus. Fazendo com que o povo esqueça tudo e se acostume passivamente com tudo o mais que existe de ruim ao seu redor, para enfim para gritar, sorrir, comprar souvenirs, camisetas, ingressos e assistir feliz da vida o tal futebol. Ao ponto de não mais enxergar o óbvio, como por exemplo, que a seleção não está bem. Basta ver como passou pelo Chile além da forma como se pediam ao juiz para acabar a partida com medo de um empate da Colômbia.
Sorte que o futebol mundial esta se nivelando por baixo, em que pese as famosas zebras( que é coisa comum até na copa). Há quem diga até que Neymar foi o melhor jogador em campo... Contra a Colômbia ele só não foi o pior por conta de Fred e Oscar ambos queridinhos do Felipão. Ah, sim o Felipão o melhor técnico do Brasil que rebaixou o palmeiras.
E a contusão do REYMAR? Um crime eu diria. Nada compatível com o esporte dentro do contexto de uma competição planetária como tal. Muito pior que a suposta mordida do uruguaio L. Suárez. Não sei se a Fifa pensará assim. 
E o Desfalque para as semifinais?
Sei não. Não quero acreditar em time de um atleta só. No mais, se o Brasil acha que depende tanto assim de um único jogador e não do seu conjunto para ser campeão do mundo. Então, penso que já está a um passo da derrota. Seja ele Neymar ou não. Prefiro confiar no coletivo.
E a campanha de comoção social - 'FORÇA NEYMAR!'
Ora bolas, já já ele estará de volta e isso não mexerá sequer com um só centavo de dólar dos seus bilhões. Terá os melhores médicos do mundo para tratá-lo. além dos holofotes da imprensa marrom lhe paparicando.
Ora gente. Paremos com isso. Heróis são os trabalhadores brasileiros - não os jogadores da seleção - Por favor Não acreditem tanto no que diz o sr. Galvão Bueno. Buena! Vamos pedir forças para os milhões de brasileiros que desde muito estão( neste momento, inclusive) certamente sofrendo e humilhados nas longas filas dos hospitais sucateados deste país. E os que deviam lhe prestar serviços, quiçá tranquilos diante da TV vendo a copa.
Força para o povo humilde que após cada partida volta para a árdua lida de cada dia como se a própria vida fosse um eterno domingo de futebol... Isso sim é heroísmo, patriotismo e por aí vai.
E mais: se acham realmente que um possível título da seleção irá servir para uma reeleição. Então eu me recuso terminantemente a torcer de coração, ou mesmo a sequer dizer que a minha torcida tem algo a ver com qualquer tipo de patriotismo barato. Ou não!?
Pelo sim ou pelo não. Viva o Brasil campeão...
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Por: José Cícero
- Aurora - CE.

foto: charge ilustrativa(http://jboscocaricaturas.blogspot.com.br)